terça-feira, 13 de março de 2018

Uma Aventura na Serra da Arrábida



Épica! É a palavra que melhor descreve a minha aventura do último fim‑de‑semana. 
“Foi mais uma aventura em bicicleta, como tantas outras”, dirão. Mas a verdade é que foi muito mais que isso.
 Nunca esta alminha tinha estado num aglomerado tão grande de outras alminhas, com os seus fatos de licra e as suas imponentes máquinas de sugar quilómetros de estrada, para participar numa prova organizada, ainda por cima pela zona de Setúbal, Sesimbra e Arrábida. O ambiente a que assisti e do qual fiz parte, foi algo que nunca tinha vivenciado.
 Saímos de casa bem cedo em direcção à desgastada ponte 25 de Abril, de onde seguimos para Setúbal. Ali fizemos um abastecimento à base de um croissant de chocolate e um abatanado (sim, que eu sou um atleta mas não sou muçulmano, logo não tenho de praticar nenhum tipo de Ramadão ou lá o que seja).
 Fizemos os últimos preparativos debaixo de um sol envergonhado que teimava em esconder-se atrás das nuvens presentes.
 Essa conjugação levou-nos a crer que os senhores da meteorologia poderiam ter-se enganado e que talvez pudéssemos ter as condições ideais para uma prova daquelas. Mas foi sol de pouca dura. 
Ainda não tinha sido dado o arranque da prova, enquanto aguardávamos ansiosamente pela ordem de partida, decide cair o Carmo e a Trindade sobre nós.
Levou-me a pensar se não estaríamos melhor numa prova de gaivotas, aquelas barcas coloridas que se aportam durante o verão na praia da Figueirinha, ali mesmo ao lado. Mas não tinha saído de casa para isso, até porque o mar não estava para brincadeiras, e corajosamente lá arrancámos, encharcados que nem os patinhos no lago para cumprir os quilómetros a que nos tínhamos designado.
O percurso foi marcado por uma inconstância no estado do tempo. Ora o sol aparecia, ora chovia na companhia do Adamastor. 
Mas o momento mais desafiador do dia acoplou-se numa simbiose perfeita com o mais espetacular. Refiro-me à passagem pelo Portinho da Arrábida e praia dos Galapos, bem como todo o percurso de regresso a Setúbal. No meio de uma paisagem de cortar a respiração fomos brindados com uma monumental queda de granizo que testou toda a nossa capacidade para estas lides. 


Tínhamos como mental coach a natureza e a criação divina ali testemunhada. O que mais adorei foi ter feito aquele troço de estrada sozinho, o que me permitiu desfrutar de outra forma daquele pedaço de paraíso. Simplesmente espetacular!
A chegada à meta é feita num ambiente de festa que faz com que todo o esforço tenha valido a pena. Já o prémio de consolação foi entregue numa bandeja recheada de choco frito, obrigatório naquelas paragens.
 Foi mais uma vivência que se juntou a tantas outras já vividas e que faz com que valha a pena cada recordação que guardamos na nossa memória. Que a idade não nos leve esse registro que guardo com tanto carinho.

domingo, 4 de março de 2018

De regresso ao caminho - a tentativa! Em Óbidos

 

Não! Não fugi, desapareci, desisti ou morri. Não fui raptado por alienígenas, não virei um ermita nem fui levado para um buraco recôndito onde a net não funciona.
 Fui atacado por um vírus muito grave que me deixou às portas da morte literária (se é que se possa chamar literário àquilo que escrevo). Chama-se desinspiração. 
 Após um período de internamento numa vida só minha decidi arriscar novamente. O que aí vem? Não sei, mas nada de criar espectativas, um passo de cada vez. 
  Neste momento, decidi escrever porque fui alvo de um tratamento à base de visitas a lugares inspiradores. 
  E que melhor tratamento do que um fim‑de‑semana em Óbidos? 
Começamos por fazer uma mini road trip pelo oeste, sempre na companhia da linha férrea.
 Sentir o cheiro a lenha que emanava das lareiras em Dois Portos e Runa sabe sempre bem, ainda por cima numa mistura de verde e humidade que torna o cenário deslumbrante. 
 De repente surge a ideia que uma paisagem assim merece um almoço que lhe faça jus. É então que decido levar a Susana ao Dom José, no Bombarral, casa que concilia a simplicidade no servir com uma cozinha capaz de surpreender as criaturas mais viajadas. Não importa o que se coma, ali tudo é bom. Mas aconselho vivamente o carpaccio de polvo para a entrada. Que delícia!
 Atestados de um magnífico almoço seguimos viagem em direcção à lagoa de Óbidos, onde a viagem começa a trazer ao de cima toda a terapêutica para a qual tinha sido planeada.



A beleza horizontal aliada ao barulho da natureza, único que se ouvia por sinal, tornou singular a visita a este lugar. Nem sempre é assim, silenciosa, mas as gotas de água que decidiram visitar a lagoa afastaram os visitantes menos afoitos. 
 Já com os níveis de paz de espírito recarregados, seguimos viagem para o destino da pernoita, Óbidos.
 Ali entrámos noutra dimensão de um fim‑de‑semana que já por si estava a ser óptimo. Instalámo-nos comodamente no Hotel Josefa de Óbidos, uma antiga albergaria transformada recentemente em hotel e que ainda está numa fase de remodelação em alguns sectores, sendo que nem demos pelas obras, excepto pelo aviso que estava afixado no Hall. Por ser uma antiga albergaria não podemos estar à espera de encontrar quartos tão grandes como num hotel do mesmo nível feito de raiz. Mas uma coisa é certa, foi tudo feito com muito bom gosto mantendo o equilíbrio entre a decoração cotidiana e o requinte da zona envolvente. 
 Depois de instalados decidimos fazer o típico percurso pedonal pelas ruas da fortaleza, com a diferença de que, por irmos ficar por lá, não havia pressa nem horários. Podemos apreciar cada rua, cada recanto. As broas de laranja da Capinha D’Óbidos acabadinhas de sair do forno, que partilham o espaço com pão de batata doce, pão tradicional com ou sem chouriço e mais uma panóplia de iguarias feitas no local e à frente dos clientes que tornam aquela casa um espaço de passagem obrigatória para quem visita a vila. Aquecemos a alma num chocolate quente de textura aveludada que consolou a cada gole. 
 Dali seguimos para uma visita, também ela obrigatória à Livraria do Mercado Biológico, aqui as frutas e legumes biológicos dividem o espaço com milhares de livros acomodados em caixas de fruta convertidas em estantes até o tecto. Neste espaço podemos degustar frutos silvestres como framboesas, mirtilos ou amoras vendidos em pequenos cones de papel como se de castanhas assadas se tratasse. Uma ideia deliciosamente cultural. 
 Mesmo sem pressa o relógio não pára e sem darmos por isso chegou a noite e o isolamento provocado pela debandada dos turistas que enchiam as ruas antes do lusco-fusco. Começamos a sentir a necessidade de procurar o aconchego de uma comida quentinha num abrigo acolhedor. Talvez por ser aquele que apresentava mais esfomeados à mesa, escolhemos A Adega do Ramada e não nos demos mal, apesar de ficar aquém do Almoço delicioso no Bombarral. 
 Decidimos acabar a noite no bar do hotel, um tipo de pub vintage com um Barman muito profissional que servia cocktails e outras bebidas com um impressionante à vontade de quem já faz aquilo por muitos anos.
 De manhã acordamos ao som da chuva e degustamos o típico pequeno-almoço continental (nunca percebi bem este nome mas acho que poderia ser enriquecido com produtos da região, é só uma sugestão), e acabamos a estadia em Óbidos com um cafézinho dentro das muralhas. 
 Na volta decidimos reviver o passado recente e passar por Alenquer onde vivemos um bom período das nossas vidas, sem recentimentos pela mudança.
 São momentos como este que fazem com que saiba tão bem viver, fazê-lo com uma animosidade restaurada e junto dos que nos são importantes ainda sabe melhor. Obrigado Susana.