Simplesmente ando muito ocupado e a ocupação tira-me inspiração.
Sim, porque mudar dá trabalho. Envolve decisões, aproveitar a oportunidade, tomar acção. E nem sempre a decisão é aquela que se nos apresenta. Temos de fazer escolhas, mudar para melhorar.
Mas a razão, que acima de qualquer outra, traz-me de volta à escrita, prende-se com o desaparecimento de uma pessoa (neste caso quatro almas) que tanto nos diz por tantos anos das nossas curtas vidas.
É difícil encontrar palavras quando falamos de alguém com quem partilhamos parte da juventude e o resto da vida até hoje.
Falo do meu colega Sérgio Machado e da sua família que perderam a vida de forma tão trágica (se é que perder a vida com trinta e poucos anos, na companhia da esposa e dois filhos não seja já suficientemente trágico) no fatídico incêndio de Pedrogão Grande.
A parcela de vida que partilhamos fez-nos trabalhar juntos, rir juntos e crescer juntos. Conhecemo-nos ainda jovens na fábrica da Lever em Sacavém. Ali crescemos juntos, ali tornamo-nos homens, casámos com as nossas esposas e constituímos família. Ali nos tornamos pais e vimos os nossos filhos dar os primeiros passos.
Ali falamos de coisas pessoais e ganhámos confiança tal para tocar em todos os assuntos com frontalidade familiar. Sim, porque era isso que éramos, uma família. Aliás, faço questão de corrigir, é isso QUE SOMOS, uma família! Debilitados pela perda de um membro, neste caso 4, porque quando um de nós perde um ente-querido, é como se todos nós perdêssemos um ente-querido. Mas continuamos a ser uma família. Fomos separados fisicamente, por força das circunstâncias, mas continuamos a rir-nos juntos, chorar juntos, divertir-nos juntos e sofrer juntos.
O Sérgio foi infelizmente o primeiro elemento desta geração que vimos desaparecer. Mas só aconteceu em corpo presente.
Em tudo o resto ele está bem vivo. Vivo na nossa mente e no nosso coração pelos momentos bem passados.
Fica a imagem de um colega e acima de tudo um amigo exemplar. Falava da família com um orgulho inspirador.
Custa aceitar, quando olhamos para a felicidade que os unia e mais difícil é de certeza para aqueles que com eles tinham laços de sangue.
Para esses, aceitem as condolências da outra família do Sérgio. Partilhamos a vossa dor, mas conscientes que de uma forma diferente, pois aquilo que devem sentir agora é indiscritível.
São quatro peças insubstituíveis no puzzle da vida mas mesmo com quatro peças a menos temos de continuar o caminho que nos apresentam.
Lutem! Pelos que foram, pelos que ficam.
Sem comentários:
Enviar um comentário