terça-feira, 1 de agosto de 2017

Anos 80 - Viagem ao passado



Hoje foi dia de brincar ao passado, ainda por cima da melhor maneira que há, com a Didi. Foi bem cedo, pela manhã, que surgiu a ideia de pôr o Velho gira-discos a funcionar. Ela tem um gosto especial pelo som gasto e seco, debitado pela pequena agulha que toca com subtileza no vinil que dança em movimentos contínuos, como se dum carrocel se tratasse. Aliás, ela tem um interesse incomum pelos objectos, música e outras modas que fazem dos anos 80 uma época imortal na nossa mente e no nosso coração.
 A vontade era tão grande quanto o desafio que se apresentava - onde arranjar a dita agulha que faria com que todo o carrocel funcionasse de forma tão coordenada. Começamos por fazer uma pesquisar bem ao estilo do século XXI, como não poderia deixar de ser, na internet. As lojas eram muitas, mas agora saber onde encontrar uma agulha tão velha como o tempo, nas modernicimas lojas de som e imagem, era o mais complicado. 
 Após alguns contactos à maneira antiga, cara a cara, soubemos da existência da AV4HOME, uma loja de som e imagem na rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa, junto ao coliseu. Escondida no meio de uma dúzia de restaurantes turísticos que pautam a vida daquela rua, encontrámos as escadas que nos levavam ao balcão apetrechado por todos os aparelhos electrónicos e os respectivos acessórios que os fazem funcionar. 
 Tirei do bolso dos calções mostarda a pequena cabeça isenta de agulha e perguntei se tinham o que era necessário para que aquele aparelho não fosse apenas uma peça obsoleta, util apenas para decoração ou mais um item de um centro de reciclagem de material electrónico.
 Fiquei espantado quando, sem qualquer apreensão, o funcionário (ou dono) da loja, abriu uma gaveta e tirou de lá a respectiva agulha. Agiu como se vender aquela peça fosse o negócio mais comum daquela loja. Até poderá ser, mas o meu desconhecimento acerca daquele assunto fez-me parecer que tinha aberto a caixa de pandora dos gira-discos. 
 Saídos dali não demorou dois minutos até a Didi anunciar uma fome de tombar de fraqueza. A intenção era claramente cravar o almoço num dos restaurantes da redondeza, mas eu tinha outros planos.
 Matamos o bicho na Fábrica da Nata, nos Restauradores. Do aspecto fabril da sala de atendimento, que mais parece uma colmeia onde os colaboradores sabem exactamente qual a sua função, numa simpatia que convida a voltar, até às salas de degustação, com seu estilo de uma mistura entre o tradicional, derivado dos azulejos tipicam portugueses, e o burlesco, resultado dos lustre suspensos no tecto a dar ideia de uma casa do século XVII, deliciamo-nos com tão típica iguaria. 
 O Pastel de nata ali é rei e o vinho do Porto conselheiro principal. Talvez devido ao meu conservadorismo, fiquei-me pelo café a acompanhar a nata, afinal ainda era de manhã, mas a vontade do Porto, essa ficou marcada pela saliva que me nascia na boca. Não volta a acontecer. O desejo é a maior vítima de homicídio da história e neste caso há que manter a tradição.
  Já mais reconfortados decidi fazer outra surpresa à Didi. Continuar a viagem pelos anos 80 e oferecer-lhe o vinil que ela tanto desejava. A artista não era da década de 80 mas era o que ela queria. Lana del Rey era o objectivo e conseguimos o único disco disponível a loja. Que sorte! Mas acho que esta esteve do meu lado para ver a satisfação de um pai por ver a sua filhota feliz. São momentos destes que me fazem crer que não há melhor vida do que viver, ainda mais junto dos que nos são importantes. 
Para ti Didi, porque tudo.

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