terça-feira, 29 de novembro de 2016

O Aeroporto

Tchau pulga, até breve!
Com os braços colados à força e os olhos que teimavam em chorar, assim foi a despedida daquela pirralha com 20 anos mal acabados que partia para uma nova etapa da vida. Ainda mal tinha acabado o ensino secundário e já partia numa aventura profissional pelo desconhecido. Um sobe e desce constante entre o aeroporto e o céu.
Mas não é caso único, nem nada que se pareça. Outros há que, depois de criarem as suas crias como um pinto debaixo das asas da mãe galinha, os vêem transformar-se em autênticos falcões, que tem de aprender a voar a pique em direcção ao gélido frio do norte da Europa. Tão repentino! Tão do nada! 
Como era possível? Aquele espaço, que até ali representava um dos melhores prazeres da vida, como era possível que ele se tornasse um centro de mágoa, de saudade e até de revolta à mistura?
Até ali, a feliz expectativa criada por o desejo de umas férias bem gozadas, era a única realidade que aquele lugar me tinha dado a conhecer. O partir à aventura, ser o Phileas Fogg por uma semana, com a máquina fotográfica pendurada ao pescoço, qual Daniel Rodrigues em busca da foto perfeita.
 Mas agora era  diferente! 
 Percebi que ali se misturam muitas emoções, muitas vidas, muitas histórias inacabadas. Pessoas que vão, pessoas que vêm.
E mais certeza tive disso quando algum tempo depois ela regressou por uns excepcionais 3 dias (parece pouco? Melhor que nada! Tomara eu 3 dias todos os meses).
Percebi que ali não se sente sempre o mesmo. Umas vezes damos de cara com a felicidade, outras vimos lavados em lágrimas. Outras ainda, não sentimos nada, porque não há nada a sentir. São só negócios que nos levam longe mas nos trazem rápido.
 Mas esses lugares também nos trazem o romance, o frio na barriga, o nervoso miudinho, a ansiedade, o medo...
Chego assim à conclusão que o aeroporto é um blackjack de sensações, uma slot machine de estados de espírito, uma roleta russa de emoções.
Seja como for, não podemos esquecer que esses lugares são e serão sempre pontes que ligam lugares, que ligam pessoas, que ligam vidas.
Por tudo isso, como canta o grande Pedro, que nunca caiam as pontes entre nós!
Já agora, boa viagem pulga. Até breve!!
 - Dedico este post a todos aqueles que por necessidade, por coragem, ou apenas pela vontade de viver, procuram estas pontes. Mas em especial à Ana, aquela pulga que, quando volta, enche aquela casa de vida.



segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Bom dia segunda-feira!

Hoje é segunda-feira! Uau! Que bom!
É raro ouvirmos expressões como esta sem estarem impregnadas de sarcasmo e ironia, principalmente quando o assunto é o início da semana.
 A malta mais nova vai para a escola com cara de quem foi apanhado a fazer asneira da grossa e por isso estará de castigo pelo resto da sua vida, os adultos vão trabalhar como se fossem personagens saídas dum episódio do Walking Dead, os bons dias saem a esforço que mais parece que foi dado um nó cego nas cordas vocais. E se o nosso clube não ganhou no fim-de-semana, então aí é que não nos digam nada pois arriscam uma resposta daquelas que mais parece que lhes meteram uma malagueta nos ouvidos. (ok, eu sei que não são todos assim, estou só a generalizar)
Mas não tem de ser assim!! A segunda-feira não tem de ser o pior dia da semana. Aliás, não precisamos de ter um pior dia da semana.
 Todos nós teremos talvez o pior dia das nossas vidas. O meu foi uma quarta-feira. O dia em que a dona Augusta deixou de lutar contra a doença que a atormentava há já 7 anos.
 Mas dias maus como este todos teremos em algum momento.
 Já bastam esses que nunca esquecemos para ainda lhes juntar um negativismo com regularidade semanal.
Porque não experimentar uma coisa diferente?
 Por exemplo, hoje fui levar a minha filha à escola. A primeira aula da manhã seria um teste de português do 9º ano. Podíamos pensar que pior do que uma segunda-feira era uma segunda-feira com um teste de português à primeira hora.
 Mas ela não pensou assim. A banda sonora do carro escolheu ela, boa escolha por sinal. A caminho, e com uma coreografia à mistura, que eu tentava imitar, demos com uma vista soberba.
 
O dia ganhou outra energia, outra vontade, outro viver.
Cheguei assim à conclusão que um dia bom, tirando raras exceções que não controlamos, somos nós que fazemos. 
Experimentem levantar-se mais cedo, se não for o vosso caso, e assistam ao nascer do sol, façam uma caminhada, uma corrida, partilhem um momento com quem mais gostam antes de ir trabalhar. Sorriam, abracem, beijem, mas façam-no com a inocente verdade de uma criança de dois anos. 
 Façam de cada dia um dia único para que não haja más segundas-feiras nem maus outros dias quaisquer.
Entretanto, bom resto de semana para todos, que com isto tudo a segunda-feira já passou.

domingo, 27 de novembro de 2016

Telhados de vidro

Foi em 2008 que fiz a minha única viagem a Paris.
Cheguei à conclusão de que aquela cidade tinha todo o encanto de que se ouvia falar e muito mais. Uma cidade mágica em que cada esquina revela uma sensação diferente.
A Place Dauphine, que é caracterizada por muitos como a praça mais romântica da cidade;
 A ponte do amor, onde antes os casais podiam colocar um cadeado e deitar a chave ao rio para eternizar a sua união;
A avenida dos Champs Elysées com uma imensidão de lojas, é verdade que não são para todas as carteiras, assim como não são para a minha, mas que enchem aquela zona da cidade de vida e movimento;
O rio Sena, com as suas margens encantadoras, onde aqui e acolá damos com artistas à procura de inspiração, devoradores de livros que ali encontram um ambiente otimizado de leitura e os casais apaixonados que ali tentam aproveitar o momento para fortalecer a sua relação tendo como pano de fundo o rio com os seus barcos com telhados de vidro para cá e para lá a serpentear pelas pontes que mais parecem peças de arte que riscam a cidade duma margem para a outra.
E agora é aquela altura em que vocês perguntam - porque está este gajo a escrever sobre uma viagem que fez em 2008? 
A verdade é que estava a pensar nisso e lembrei-me o quanto parecem frágeis os telhados daquelas "barcaças" envidraçadas. Todos nós parecemos ter uma fragilidade idêntica. Não que haja algum problema com isso, afinal somos apenas humanos!
 O problema está quando achamos que somos naturais de um planeta distante, tipo Krypton (para os mais leigos este é o planeta de origem do Super Homem) e por isso temos poderes sobrenaturais que nos tornam mais fortes que o comum dos mortais, o que faz com que achemos que telhados de vidro é uma coisa que não nos assiste. DEUS NOS PERDOE TANTA MEDIOCRIDADE! 
Somos pessoas, caramba! Que direito temos de falar dos outros se temos tantas coisas para resolver nas nossas vidas? Eu até percebo que algumas vidas são tão fúteis, tão cheias de nada, que para se tornarem mais hilariantes têm de ser preenchidas com os "disses que disse" da vida dos outros.
Mas para não criar esse desejo, ocupem a vossa vida. Por exemplo, leiam um livro! Se isso for muito exigente, inscrevam-se num workshop de costura ou de culinária (e cozinhar é tão bom), dediquem-se a uma causa. 
Mas evitem a todo o custo ler revistas "cor de rosa" e de ver o CM vidas, porque isso ainda irá desenvolver mais a vossa capacidade de inspeccionar os telhados de vidro alheios.
 Contudo, se fizerem questão de pensar em telhados de vidro alheios, que sejam os das barcaças que zigazeiam no Sena, dando uma perspectiva diferente de uma das cidades mais bonitas que vi.



sábado, 26 de novembro de 2016

O princípio é branco

Ok!
Tudo tem de ter um princípio. E muitas vezes, senão todas, este pode ser definido por cores. O princípio do dia pode ser alaranjado; o princípio da noite pode ser azulão (desculpem-me o daltonismo) mas o princípio dos princípios, esse caracterizo de branco - o estado puro do nada.
 Assim vou começar, numa partilha constante de experiências, emoções, erros e realizações. Tudo começa como um frigorífico despido de recordações magnéticas.
 Iremos juntos preencher um espaço que me pertence mas que partilho e no qual se permite uma troca de experiências que nos ajudem a viver.
 Os Humanos, grupo que cantou uma série de músicas do eterno  António Variações, que não eram conhecidas do grande público, lançaram um tema, que dizia em parte:
"Vou viver, até quando eu não sei, que me importa o que serei, quero é viver."
E é isto que quero com este espaço - viver!
Vamos juntos partilhar o que a vida tem de melhor.
Mas não vamos restringir a nossa vida ao que é bom. Viver é também errar, é começar de novo, é voltar a tentar, é acertar em cheio. Viver é....... viver!!
Vamos partilhar experiências que não devem ser repetidas, ou melhor, experiências incómodas, desabafos. Vamos aprender que a vida não se aprende, a vida vive-se.
Vou, junto convosco preencher o meu frigorífico. Conto com a vossa ajuda!