quarta-feira, 30 de maio de 2018

Bailey, O Beagle- primeiro acidente de percurso



Que os beagles eram destemidos e cães de caça por natureza eu já sabia. Mas o Bailey é tudo isso com uns pózinhos de Flash Gordon reguila, um traquina arraçado de beagle. 
 Em casa, está sempre onde nós estamos. Quando passa como se nada fosse, em direcção ao seu posto de controlo, a cama estrategicamente colocada na cozinha lá de casa, é porque já fez alguma, é sinal de que tem em seu poder algo que não lhe pertence, por norma, uma peça de roupa que desviou do roupeiro de um membro da família mais incauto. Um verdadeiro larápio. 
A vida com o Sir Bailey nesta fase da sua juventude é um desafio. A palavra que mais se usa lá em casa, a seguir ao seu nome, é não. 


No quarto, Bailey não; na sala, Bailey não; no wc, Bailey não. Não, não, não, a toda a hora e a todo o momento. Ele é um xixi num sítio inadequado, ele é um cocó em casa logo depois de um passeio de 1 hora pelas ruas do bairro. 
 Deitar-me um pouco no sofá significa ter de partilhar o espaço com o canídeo ou então ter de me sujeitar a um chamar de atenção constante que tanto passa por mordiscar os meus pés como por fazer porcaria na sala para chamar a atenção.
 No último fim‑de‑semana, num dos passeios pelas ruas do bairro, o sujeito lembrou-se de fazer uma incursão a um pequeno canto, minado de praganas. O resultado? Pragana numa narina e ida à urgência do hospital veterinário Vasco da Gama, no Parque das Nações, para retirar a mesma. Ok, a culpa foi minha, eu sei.
 A equipa que o atendeu era espetacular, muito simpática e cuidadosa. Contudo, o cão disfarçado de destemido, afinal não passa de um cachorro maricas e só de o pegarem para deitar na maca começou a ganir como se tivessem a amputar um membro ao desgraçado a sangue frio. Ao mesmo tempo que era angustiante assistir àquilo, dava piada ver que não passava de um teatro canino bem montado.
 São momentos desafiadores que por vezes tiram a paciência mas compensados com os risos que as suas diabruras arrancam.
Hoje, quando a Susana foi com ele à rua, encontrou uma vizinha que confessou que quase deu o seu cão quando ele era miúdo, por fazê-la a perder a paciência. Essa fase durou até os sete meses. 
Quanto tempo vais durar essa fase no Sir Bailey? O que virá depois disso? Não sei responder mas espero que quer ele quer eu, estejamos cá para assistir a isso.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Uma Estrela na Serra



Pode até parecer que me contento com pouco, que seja. Mas a verdade é que ao ter cumprido este feito criei uma sensação de realização pessoal como nunca tinha sentido. Tudo começou quando após ganhar o bichinho do ciclismo, alimentei o sonho de subir ao topo de Portugal Continental em bicicleta. Depressa esse sonho virou obsessão e após várias outras realizações cicloturisticas, começou a ganhar forma a ideia que durante tanto tempo me alimentou a imaginação.
Para tal fui convencendo alguns colegas do pedal e de profissão para tal estirada que nos ia marcar para sempre. Foi isso mesmo que aconteceu. 
No dia 12 de Maio, enquanto alguns davam os últimos passos numa peregrinação que alimenta a sua fé, eu e mais cinco destemidos lá arrancamos bem cedo pela manhã com o objectivo bem traçado. 
 Foi interessante ouvir um ou outro dizer “não há problema, se não conseguir volto para trás”. Mas eu tinha a certeza que íamos ser bem sucedidos, a motivação era maior que o obstáculo que tínhamos de superar, a vontade era mais forte que os músculos que tínhamos de usar. Nunca duvidei que não era qualquer um, o imprevisto, que nos ia demover do nosso objectivo. Assim, lá chegámos à Covilhã, como uma ansiedade no estômago que quase interrompeu o sonho a um dos aventureiros. Mas não havia como! A ideia estava tão interiorizada que nem um percalço físico nos ia travar, fosse ele de que magnitude fosse, pelo menos era esta a ideia que alimentava a minha vontade. 
 Arrancamos da Covilhã para Manteigas com a ideia de que esta fase do percurso era a mais simples de superar. Mas ao fim de 5 quilómetros já estávamos a subir a Serra da Contenda numa escalada de 7 quilómetros até ao topo. Mas valeu bem a pena esta subida, pois a vista com que nos deliciamos foi de uma beleza inqualificável. Aconselho vivamente a quem não tem mais nada para fazer do que ler o meu blog que se ponha à estrada (podes ler o blog depois que eu deixo) e vá descobrir este pedaço de paraíso.
Chegámos a Manteigas com um bom aquecimento nas pernas e com o vale glaciar a dar-nos as boas vindas. Uma curta paragem para o cafezinho da praxe e toca a subir para não arrefecer. A aventura ganhou proporções dantescas a partir deste ponto. Já tinha feito esta subida de carro, mas de bicicleta é incrível.
O som do rio Zezere que serpenteia por entre as pedras do vale e das cascatas que caem num caos organizado, onde de longe somos brindados com a paisagem calma e serena, mas ao chegar perto o barulho faz-nos perceber o quanto somos um grão neste planeta que nos dá guarida.
Quanto mais subimos, mais sentimos a dificuldade do percurso, a pressão nas pernas, o frio na cara. Tudo isto leva as minhas emoções ao rubro. Estavam espalhadas em mim e os meus companheiros notaram isso. Nos últimos 6 quilómetros a dificuldade aumenta substancialmente e passaram muitas coisas pela cabeça, parar um pouco talvez, desistir nunca, mas nunca mesmo!
 Até que após curva sobre curva lá aparece a indicação “Torre 200 mts”. Os músculos renovaram-se e a alma também. Voltou a motivação e o sorriso nos lábios enregelados. Após o últimos esforço lá chegámos ao topo onde nos aguardava a bela sandes de queijo da serra e presunto que os vendedores preparavam a quem por lá passava. 


A descida foi quase tão difícil como a subida, principalmente na primeira fase. É que o frio que se fazia sentir entrava pelo peito e quase não deixava respirar. 
Mas com coragem, e sensação de dever cumprido lá chegámos à Covilhã onde nos aguardava o transporte para a viagem de regresso. 
 Podia adjectivar esta vivência de muitas maneiras mas só me ocorre uma palavra, gratidão.
Gratidão por todos os que me acompanharam, gratidão pela Susana que me ajudou a preparar isto tudo, gratidão por Deus me dar forças e condição física para realizar este sonho. Outras aventuras vêm aí mas esta nunca sairá da memória, estejam atentos.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Welcome Bailey


É verdade! Voltamos a ser uma família de 4 seres. A particularidade de não serem todos humanos é apenas isso, uma partícula no verdadeiro sentido da palavra família. 
 Éramos nós três e o Capitão Nemo, o labrador que por muitos anos nos deliciou com as suas brincadeiras e com o seu pachorrento estilo de vida. Deliciava aos espectadores presentes ver a Didi, que até ali era filha única, ainda com 4 aninhos, a brincar com o seu serviço de cozinha da Moranguinho enquanto o Nemo fazia de visita, ao sentar-se no topo da mesa do jardim, aguardando pacientemente o prato que carregava a bolacha Maria que ele iria devorar num literal abrir e fechar de olhos. Aquela bolacha fazia com todo aquela espera valesse a pena. E se ele esperava! Sim, que a pequena não estava sempre a alimentar o bicho, o objectivo era prendê-lo àquela brincadeira o mais tempo possível.

 Dava um gozo, principalmente no verão, ir caminhar com o capitão. Quando chegava a casa, após alguns quilómetros, já parecia um caranguejo, a andar de lado, não fosse o nome do sujeito ligado às aventuras marítimas. E se ele gostava de praia!
 Foram muitos momentos marcantes, divertidos, carinhosos, que criaram, com a partida do capitão, uma revolta que assolou a família durante algum tempo, a ponto de ser unânime a ideia de que “animais nunca mais.” Mas já estávamos tão habituados à ideia de uma família de 4 membros, que depressa voltou o bichinho de querer fazer crescer o clã. Não era uma substituição, o Nemo é insubstituível, era antes um acrescento ao nosso coração.
 Assim surgiu o Bailey, o beagle cá da casa. 
 O nome foi uma escolha da Didi, afinal ela é que é a beagle’s mamma.
 Não foi uma ideia unânime, mas consensual, a que nos levou até Pombal para ir buscar este menino de olhos mimados. Pura ilusão, afinal o jeitoso é um atrevido de primeira, sempre disposto a ir à aventura e em busca de novas descobertas. Tão eu o raio do cão, aventureiro, extrovertido, mas lá no fundo um mimado por natureza.
Tem sido uma vivência tão divertida quanto desafiadora. Ter outro ser aos nossos cuidados exige dar de nós 24 horas por dia, exige fazer planos em cima dos planos. Agora há uma pergunta que tem de vir sempre quando se planeia o que quer que seja, “como é com o Bailey?” Sim, porque o Bailey agora faz parte. 
 Mas é tão bom! Vê-lo adormecer com a cabeça no nosso colo, a correr com aquelas orelhas a esvoaçar, a olhar-nos com a cabeça de lado como se perguntasse “como é?”.
 É bom ver a evolução, semana após semana, ver aquele menino tornar-se num rapagão.
 Vou tentar partilhar convosco essa peripécia com a regularidade possível.
 Aguardem notícias de novas aventuras.