Pode até parecer que me contento com pouco, que seja. Mas a verdade é que ao ter cumprido este feito criei uma sensação de realização pessoal como nunca tinha sentido. Tudo começou quando após ganhar o bichinho do ciclismo, alimentei o sonho de subir ao topo de Portugal Continental em bicicleta. Depressa esse sonho virou obsessão e após várias outras realizações cicloturisticas, começou a ganhar forma a ideia que durante tanto tempo me alimentou a imaginação.
Para tal fui convencendo alguns colegas do pedal e de profissão para tal estirada que nos ia marcar para sempre. Foi isso mesmo que aconteceu.
No dia 12 de Maio, enquanto alguns davam os últimos passos numa peregrinação que alimenta a sua fé, eu e mais cinco destemidos lá arrancamos bem cedo pela manhã com o objectivo bem traçado.
Foi interessante ouvir um ou outro dizer “não há problema, se não conseguir volto para trás”. Mas eu tinha a certeza que íamos ser bem sucedidos, a motivação era maior que o obstáculo que tínhamos de superar, a vontade era mais forte que os músculos que tínhamos de usar. Nunca duvidei que não era qualquer um, o imprevisto, que nos ia demover do nosso objectivo. Assim, lá chegámos à Covilhã, como uma ansiedade no estômago que quase interrompeu o sonho a um dos aventureiros. Mas não havia como! A ideia estava tão interiorizada que nem um percalço físico nos ia travar, fosse ele de que magnitude fosse, pelo menos era esta a ideia que alimentava a minha vontade.
Arrancamos da Covilhã para Manteigas com a ideia de que esta fase do percurso era a mais simples de superar. Mas ao fim de 5 quilómetros já estávamos a subir a Serra da Contenda numa escalada de 7 quilómetros até ao topo. Mas valeu bem a pena esta subida, pois a vista com que nos deliciamos foi de uma beleza inqualificável. Aconselho vivamente a quem não tem mais nada para fazer do que ler o meu blog que se ponha à estrada (podes ler o blog depois que eu deixo) e vá descobrir este pedaço de paraíso.
Chegámos a Manteigas com um bom aquecimento nas pernas e com o vale glaciar a dar-nos as boas vindas. Uma curta paragem para o cafezinho da praxe e toca a subir para não arrefecer. A aventura ganhou proporções dantescas a partir deste ponto. Já tinha feito esta subida de carro, mas de bicicleta é incrível.
O som do rio Zezere que serpenteia por entre as pedras do vale e das cascatas que caem num caos organizado, onde de longe somos brindados com a paisagem calma e serena, mas ao chegar perto o barulho faz-nos perceber o quanto somos um grão neste planeta que nos dá guarida.
Quanto mais subimos, mais sentimos a dificuldade do percurso, a pressão nas pernas, o frio na cara. Tudo isto leva as minhas emoções ao rubro. Estavam espalhadas em mim e os meus companheiros notaram isso. Nos últimos 6 quilómetros a dificuldade aumenta substancialmente e passaram muitas coisas pela cabeça, parar um pouco talvez, desistir nunca, mas nunca mesmo!
Até que após curva sobre curva lá aparece a indicação “Torre 200 mts”. Os músculos renovaram-se e a alma também. Voltou a motivação e o sorriso nos lábios enregelados. Após o últimos esforço lá chegámos ao topo onde nos aguardava a bela sandes de queijo da serra e presunto que os vendedores preparavam a quem por lá passava.
A descida foi quase tão difícil como a subida, principalmente na primeira fase. É que o frio que se fazia sentir entrava pelo peito e quase não deixava respirar.
Mas com coragem, e sensação de dever cumprido lá chegámos à Covilhã onde nos aguardava o transporte para a viagem de regresso.
Podia adjectivar esta vivência de muitas maneiras mas só me ocorre uma palavra, gratidão.
Gratidão por todos os que me acompanharam, gratidão pela Susana que me ajudou a preparar isto tudo, gratidão por Deus me dar forças e condição física para realizar este sonho. Outras aventuras vêm aí mas esta nunca sairá da memória, estejam atentos.
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