Daquele lugar onde brincaste em criança? Daquele baloiço, que apesar de já não existir, ainda está, na tua memória, bem presente, já com a ferrugem a descolar a tinta do ferro, onde voaste de um lado para o outro, vezes sem conta.
Lembras-te?
De ir a casa roubar uma faca da cozinha ou uma chave de fendas da ferramenta do teu pai, para criares a melhor arma de jogar ao espeta, num círculo geometricamente desenhado na terra?
Lembras-te de chegar a casa com as mãos sujas de pó por andares a abrir covas às quais apontavas os berlindes depois?
Lembras-te?
Quando, numa correria desenfreada, a brincar às escondidas, caíste e esfolaste os joelhos?
Lembras-te da fotografia de grupo que tiraste na primeira classe e na segunda e terceira e quarta? Lembras-te?
De brincar com os miúdos lá da rua noite adentro, só ias para casa porque alguém te chamava.
Lembras-te?
Da miúda mais gira lá da rua, por quem todos os rapazes se enamoraram, dos quais tu não és exceção. De como brincava às casinhas, de como fingia cozinhar, até fazia colorau com pedaços de tijolo raspados um no outro e como isso te fascinava!
Lembras-te?
Das brincadeiras com o teu irmão mais novo, e como juntos faziam a vida negra à irmã mais velha. De como brincávamos com os carrinhos da Majora na carpete da sala enquanto o Ti Manel, patriarca da família, repousava na poltrona, de olhos fechados, fingindo que estava a ver televisão.
Lembras-te?
Eu lembro-me. Bons tempo esses. Aqueles em que a Avó Tina, vinha à nossa procura a palmilhar terreno, as malditas cataratas já não a deixavam ver como antigamente, e quando nos encontrava, não via mais do que um vulto, que a obrigava a dizer o nome de todos os netos até acertar. Às vezes parecia que sabia quem era, era tiro certeiro, pura coincidência.
Lembro-me daquelas férias em Loulé, numa quinta, pertence dos patrões da minha irmã Paula, tão bom que foi andar a cavalo, aprender a conduzir uma Casal Boss e dar uns mergulhos na piscina às 3 da manhã com os filhos dos donos.
Algumas dessas memórias estão guardadas em papel fotográfico, 10x15, nos álbuns lá de casa. Outras, porque a preguiça de tirar fotos era mais que muita, guardo na retina.
Hoje é bem mais fácil guardar recordações, ter uma máquina fotográfica acoplada ao telemóvel facilita muito.
Mas, em nome das boas memórias, continuo a não fotografar tudo. Gosto de guardar muitas coisas que uma fotografia não guarda.
Não guarda, mas ajuda a lembrar, em nome das boas memórias. Lembras-te?
Lembro-me.
ResponderEliminarBonito! Saudades da avó tina!! Linda Senhora, grande Avó e Mãe... Saudades
ResponderEliminarMuito bom mesmo... o texto e o sentimento que ficou ao ler as tuas palavras. Nostalgia, direi?!?!?!
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