domingo, 22 de janeiro de 2017

Portugal - um mundo à parte

 Quando metade da Europa está debaixo de neve, em Portugal o sol continua a brilhar. As pessoas saem à rua com vitamina D para dar e vender, o senhor das castanhas tem de usar um chapéu na cabeça porque este sol baixinho sabe bem mas faz mal, dizem os antigos ( nunca percebi se é mesmo assim).
Mas o melhor ainda é podermos ter a presença desta estrela que nos aquece desde que acorda até que se deita, deixando-nos depois na companhia de uma lua, que ao ser por vezes super, torna as noites especiais.
 Os ordenados são baixos, o sistema de saúde não é o melhor, mas este clima, a gastronomia e as gentes que por aqui co-habitam, tornam este país único no que à diversidade cultural, natural e gastronómica diz respeito.
Percorrer a Costa Vicentina com vistas de cortar a respiração, explorar as praias mais recônditas do Algarve, escondidas entre escarpas de rocha arenosa, ou até mesmo escondidas dentro de grutas onde o sol vem espreitar, como é o caso de Benagil. 
 

Percorrer as aldeias de xisto, com o cheiro do cabrito assado a misturar-se com o da lenha de sobro na lareira, conhecer cidades carregadas de bairrismo como nisso são exemplos o Porto, Lisboa, Coimbra e outras mais.
 Dar um mergulho na gélida cascata do Leonte, no Gerês, ou saltar da prancha improvisada da praia fluvial de Ponte da Barca.
 Dar um salto às ilhas e fazer uma caminhada pelas levadas da Madeira seguida de um banho reconfortante antes de jantar uma espetada madeirense ou um espada com banana, ou bife de atum. Há muito por onde escolher. Beber uma poncha em Câmara de Lobos, comer uma sandes de bolo do caco com carne em vinha d'alhos no mercado do Funchal, só no que à gastronomia diz respeito, a Madeira é um mundo. 
 As saliências montanhosas obrigaram a um perfuramento constante das suas entranhas, afim de facilitar as deslocações, mas fazer os trajectos pelas estradas antigas, sem pressas, admirar a vegetação e sentir a nossa "pequenês" quando vamos do nível do mar até mais de mil metros de altura em   poucos minutos, conhecer as gentes e o seu dia a dia, visitar os seus jardins e parques sempre floridos, misturando um mundo de cores às vezes de forma ordeira outras nem tanto mas que pinta de cor esta tela plantada no meio do mar, faz desta ilha um lugar a visitar enquanto pudermos viver.
  Nos Açores, a natureza recebe-nos de braços abertos e convida-nos a encher o nosso ser de memórias e sensações que nos marcam para sempre.  
Sem duvida, aquele era um lugar onde eu era capaz de viver. Pela natureza, pelas gentes tão hospitaleiras, tão genuínas, pelo mar sempre presente, pelos trilhos e caminhos que se podem e devem percorrer vezes sem conta sem nunca fartar, pelas águas quentes, pelo queijo, o ananás, o peixe e restante gastronomia, pelos 9 pedaços de paraíso que adornam o Atlântico e por tudo o que agora não me recordo. É bom ir, mas é obrigatório voltar.
 Por tudo isto e muito mais, Portugal, o país mais ocidental da Europa, é um mundo à parte.
 Sejam bem vindos!


 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A arte de saber perder

 Foi no verão de 2016 que decidi ler o livro Prometo perder, do Pedro Chagas Freitas. Neste percebe-se que a vida é feita de aventuras e desventuras, sejam elas na forma que escolhemos viver, na forma que procuramos a felicidade ou na forma que escolhemos amar. Ali, o autor também nos diz que o amor resiste a tudo menos à falta de tentativa.
A verdade que fica bem vincada neste livro é que o problema não é perder, o problema é não tentar.
 Esta, infelizmente, é uma verdade que vemos testemunhada quer por outros, quer por nós mesmos.
 Ficar entregue à mediocridade do assim está bom e não tentar outro caminho, escolher sempre o mesmo, o confortável, o sem curvas sinuosas, escolher sempre a estrada asfaltada e nunca o caminho de terra batida. Nunca sair da zona de conforto para ser feliz com risco. Ser feliz com risco é outro nível. A taxa de sucesso é mais reduzida do que o sinismo do assim está bem. Nunca está bem. Estar bem é desistir de procurar ser feliz, é desistir de tentar. 
 Amar com risco é outro nível. Estar bem assim é desistir de procurar amar. 
Viver com risco é outro nível. Estar bem assim é desistir de viver. Desistir de tentar o intenso. 
Que ideia mais absurda é esta de desistir de tentar?  Que ideia é esta de, em nome do confortável, tirar o arriscar do dicionário da vida?
 Sempre fui um sonhador. Sempre fui muito hábil em sair da zona de conforto. Quando a vida se torna demasiado confortável, dou-lhe um safanão e já está, tudo a girar outra vez. Nem sempre corre bem. Nem sempre o caminho sinuoso é o melhor caminho. Aliás, são muitas as vezes que entro em caminhos assim e tenho de voltar atrás. Erro, faço más escolhas. Mas, caramba, pelo menos escolho, pelo menos tento. Tentar é viver, não tentar é estar na vida, é andar para aí.
 Porque hei-de morar a vida toda na mesma casa? Porque hei-de trabalhar a vida toda no mesmo emprego? Porque fazer férias a vida toda no mesmo lugar? Porque sim. Ou porque não. Isto só por si não é um problema, isto só por si não torna a vida enfadonha. O problema é quando tomamos decisões assim por falta de objectividade, só porque dá trabalho mudar, porque o assim está bem é tão bom. Nenhum amor dura com o conforto do assim está bem. Amar para sempre significa lutar para sempre, esfalfar-nos todos por esse amor. 
 O amor não cai com a chuva, nem a felicidade. Vai à luta. Se perderes a batalha, perdes com a certeza de que percorreste as estradas mais inóspitas, porque sabes que é nos lugares mais recônditos da vida que encontras aquilo pelo que vale a pena viver.
 

domingo, 8 de janeiro de 2017

O polícia e a família

 
O espelho não engana. É por isso que teima em buscar o seu julgamento dia após dia, antes de sair de casa. O que vê? Alguém orgulhoso do percurso traçado e da farda que veste. 
 Não sou polícia nem sou casado com uma ( por muito que a mente, por vezes, possa criar ideias promíscuas com algemas e fardas). Daí que este texto é um puro devaneio pessoal sobre o homem ou mulher por detrás da autoridade.
Não estou aqui para falar da forma de agir das autoridades competentes nem para falar do policia enquanto agente da autoridade, o objectivo não é criar polémica nem discussão em torno deste assunto. Estou aqui para falar do homem ou mulher que, enquanto pessoa, tem família. É filho ou filha, marido ou esposa, pai ou mãe.
 Do homem ou mulher que tem de sair da sua terra natal, deixa para trás os seus e aluga uma casa com poucas condições, até que a situação o permita juntar o agregado, só para exercer uma profissão que alguém teima em dizer que não é de risco. De vez em quando, porque as saudades apertam, lá vai passar um fim de semana ao lugar onde nasceu.
 Do homem ou mulher, que diariamente sabe como sai de casa mas não sabe como entra. Daquele ou daquela, que se tem um pequeno atraso e está incontactável deixa a família em alvoroço. Vê os filhos nascer mas não sabe se os vai ver crescer. Só que, para não entrar em loucura, tenta, vez por outra, esquecer estes tormentos. Não quer condicionar o futuro com esses pensamentos.
 Do homem ou mulher que não tem feriados nem dias santos mas está pronto para exercer a sua profissão sempre que a escala o designa. Isso impede-o de estar com a família em alturas que lhes são tão importantes. Do homem ou mulher que vê outro homem ou outra mulher abandonar a vida, bem à sua frente, sem nada poder fazer, tendo essa imagem presente na memória para o resto das suas vidas. Daqueles que são chamados para ocorrências em zonas ditas perigosas e a adrenalina toma de tal forma conta de si, que vão, literalmente, com o coração aos saltos.
 Estou a falar do homem ou mulher que, apesar de todas estas contrariedades, conseguem amar e debitar felicidade por meio de um sorriso rasgado, porque a vida não é só trabalho. Quando vê os seus filhos nascer, quando os vê entrar para a escola ou quando os vê constituir a sua própria família, a sensação de realização pessoal toma conta destes seres que um dia decidiram enredar por uma das profissões que melhor conjuga a ingratidão com o gratificante na mesma frase.
 Lanço aqui um desafio a todos os leitores deste devaneio textualizado, que da próxima vez que se cruzarem com um qualquer agente da autoridade, seja ele Polícia ou GNR, cumprimentem-no, agradeçam-lhe e se possível dêm-lhe um abraço. (Haverá alguns mais introvertidos que não gostarão de abordagem tão íntima).
 A estes homens e mulheres, envio o meu muito obrigado, com o voto de que sejam felizes e vivam, porque viver é a melhor vida que há.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Princesa- o estatuto que nem todas têm!

 Passava o Ano de 1937 quando nasce a primeira princesa do mundo fantástico da Disney. Esta tinha recebido este estatuto por ordem hereditária, pois os seus pais eram reis de um reino distante. 
 Esta história foi incubada pelos Irmãos Grimm entre 1812 e 1822, num livro publicado com outras fábulas.
 Após a morte da mãe de Branca de Neve, o seu pai volta a casar, desta vez com uma mulher arrogante e vaidosa, possuidora de um espelho mágico que só dizia verdades. A rainha consultava regularmente o seu espelho para saber quem era a mulher mais bonita de todas, ao que o mesmo respondia sempre que era ela.
 Até ao dia em que a Branca de Neve faz 17 anos e o espelho, porque dizia sempre a verdade, responde que a rainha era bela, mas a Jovem princesa era ainda mais.
Como se a resposta do espelho não bastasse, havia um príncipe que mostrou um interesse platónico na jovem princesa. Possuída por uma inveja que a consumia, quer pela beleza da jovem quer pelo interesse do príncipe, a rainha engendra um plano para matar a Branca de Neve. Contrata um caçador para fazer o trabalho sujo, mas este na hora H não consegue disferir o golpe fatal. A princesa foge para a floresta e encontra refúgio no abrigo de sete anões, que lhe oferecem guarida com a condição de que mantivesse a casa limpa. Mas ao fim de algum tempo, o espelho informa a rainha que a Branca de Neve ainda está viva e continua a mais bonita. Disfarçada de Velhota,  descobre o esconderijo da jovem e resolve matá-la, não conseguindo porque o amor do príncipe salvou-a de um desfecho trágico.
 Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, mas ele há coincidências do caraças. 
Há mulheres que adquirem esse estatuto, não pela sua beleza ou interesse, mas por ordem hereditária ou serem casadas com um príncipe herdeiro. Outras existem, que só o são na boca dos portadores de rolos de tinta ou talochas, empoleirados nos andaimes que se abeiram dos passeios nas ruas em que transitam e que as ordenam princesas com piropos foleiros. 
Ainda outras, recebem tal lisonjeira designação por regularmente se verem rodeadas de seres do sexo masculino, com que trabalham, e cuja abordagem provoca inveja nas trabalhadoras que são autênticas rainhas, portadoras de um espelho mágico que identifica as princesas como as mais belas do reino.
 Espero que as coincidências com a história dos irmãos Grimm se fiquem por aqui, senão terá um príncipe enamorado que dar um beijo cheio de amor, para livrar a sua princesa das artimanhas malvadas da rainha má.
 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Perdeste dinheiro? Chama as caça moedas

 
A ciência continua a surpreender com as invenções mais bizarras e de utilidade mais duvidosa que se possa imaginar. Uma dessas criações foi os cyborgs detetores de metais. Andam por aí, espalhados pelas cidades, passando despercebida a sua real natureza, até porque o seu aspecto cool, com alguma sensualidade à mistura, os confunde com os melhores exemplares humanos, no que ao aspecto físico diz respeito.
 Têm sido reportados avistamentos nos locais mais emblemáticos das principais cidades do mundo. Paris, Londres e Nova York são o habitat preferido destas autênticas máquinas caça moedas.
A procura tem sido tanta que já se produzem cópias pormenorizadas de humanos com certo nível de popularidade. A maior parte destes robôs são inspirados no sexo feminino mas já se produzem exemplares inspirados no ser másculo.
 Já se fala que estão a ser criadas séries à prova de água para realizar um trabalho pelas praias. Se a moda pega, lá vai o ganha pão daqueles senhores que andam com as antigas máquinas detetoras de metais a rastrear a areia em busca da felicidade no que outros deixaram para trás.
 Se decidirem substituir os caça fantasmas é ver por aí máquinas carregadas de sensualidade com malas de viagem às costas.
 

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A noite de quem trabalha à noite

 O escuro toma conta do dia e é interrompido apenas pelos luzeiros que iluminam as casas e os caminhos. O corpo, habituado ao movimento diurno, tende a ficar enturpecido quando o sol se esconde, tudo porque, ao contrário dos animais nocturnos, como a coruja, o rato, ou o escorpião, os humanos não foram concebidos como notívagos. Mas há que arrebitar, que a procissão ainda vai no adro, e há uma noite de trabalho pela frente.
 O sistema digestivo, ainda em jet lag, tende a trazer algum desconforto que se dissipa com as primeiras noites. Só que, qual sol de pouca dura, quando finalmente se adapta às circunstâncias, vê-se substituído pelo cérebro e o seu córtex cognitivo, que dá sinais de perder a sua sintonia genética devido à falta de sono, e provoca um irritante mau humor, que tem reflexos na família e em quem nos rodeia.
Viramos um autêntico saco de Peta Zetas pronto a estalar incomodamente no dia a dia de alguém.
Conforme as horas passam, o cansaço substitui a concentração e a probabilidade de cometermos erros aumenta exponencialmente.
 Como se todos os contras não fossem razão mais que válida para valorizar estes seres, ainda vemos o seu esforço ser tão depreciado ao ponto de as próprias refeições, e estou a generalizar, serem banalizadas quanto à qualidade e diversidade.
 A função pública tem um horário de trabalho reduzido em relação ao privado, mas os trabalhadores em regime de turno não têm, como deveria ser lei, um regime de horário, férias e reforma próprios do desgaste a que estão sujeitos.
 Tudo é compensado com 25% de pagamento extra, como se isso resolvesse os problemas de saúde física e psicológica a que estão sujeitos, como se isso resolvesse a redução na esperança média de vida de quem trabalha nesse regime.
 Fica lançado o repto aos parceiros sociais, ou aos patrões só por si, para que possam olhar para esta realidade que afecta tantas famílias e ajudem os seres da noite a ter outra qualidade de vida.
 Até lá, e porque este não parece ser um problema com resolução no horizonte, temos um papel activo no nosso bem estar, principalmente quando está envolvido o trabalho nocturno.
 Faz por ti e cuida da tua saúde por teres hábitos de vida saudáveis. Pratica desporto de uma forma regular, seja por caminhar, correr, nadar ou andar de bicicleta, o importante é que sejas activo. Não fumes, evita beber álcool, mas só em excesso. Porquê acabar com os pequenos prazeres da vida? Junta a isso uma dieta saudável, rica em frutas e legumes e pode ser que assim consigas fazer desta adversidade uma oportunidade de melhorares a tua vida. 
 Luta pelo teu bem estar. Vai em frente. Boa noite de trabalho.

domingo, 1 de janeiro de 2017

2017 - é hora de viver!

  Saúde, dinheiro, paz e outras tretas
Estes são talvez os desejos que mais ouvimos no início de um novo ano.
Mas porque não pensar em desejos mais realistas?
Pensar em realizações possíveis? Ou em realizações difíceis de concretizar mas que dê um grande gozo lutar por elas?
 Porque não ter como resolução para 2017 fazer algo por ti mesmo? Perder peso, fazer desporto, uma viagem, uma viagem à volta do mundo de mochila às costas! Ou então à volta da Europa ou só do teu país. Mudar de hábitos! Realizar sonhos.
 Porque não juntar sonhos com alguém? Para isso aprende a partilhar, a partilhar um sorriso, a partilhar um momento, a partilhar um lugar, uma paisagem, a partilhar a vida.
Aprende a amar quem te ama, ou quem não te ama mas que precisa de um click no coração para acender o amor por ti. Faz por quem amas, oferece flores, escreve um poema, uma carta, um livro, ou o que quer que seja, faz pela vida. Dá de ti, dá o teu melhor e não desistas na primeira adversidade.
 Solta-te dos medos que te prendem, o medo pode prender a realização do que sonhas, tem coragem. 
 Não te acomodes demais. Se achares bem, foca-te em viver, mas viver com intensidade, viver com paixão e alguma loucura à mistura. 
Dirão os mais conservadores que estas não são as melhores realizações. Mas quem são eles, ou eu, ou outra pessoa qualquer, para dizer o que são bons objectivos? Essa é uma decisão pessoal e cabe-te a ti fazer essa escolha, cabe-te a ti agir.
 É por isso que, ao contrário de outros hábitos, gosto de fazer essa transição na quietude do frio alentejano. 
 É um ambiente que me permite fazer uma introspecção sobre as minhas vivências. 
 Ao som dos estalidos da lareira, penso em como foi o meu ano e como gostava que fosse o próximo. Continuar a encher este blog de experiências pessoais e das coisas que me enchem a mente e o coração é dos meu maiores objetivos. Aliás, ter iniciado este processo foi das maiores realizações do último ano.
  No ano que vai assinalar as minhas quatro décadas de vida, quero experiênciar novas vivências, ou repetir as melhores. Quero partilhar, dar de mim, fazer pela vida e amar. Amar com vida, amar com prazer, amar com tudo o que tenho, até não ter mais amor para dar.
 Que este ano permita, daqui a 365 dias, fazer uma retrospectiva, sem ressentimentos, com a certeza de que fiz o possível para ser feliz.