O espelho não engana. É por isso que teima em buscar o seu julgamento dia após dia, antes de sair de casa. O que vê? Alguém orgulhoso do percurso traçado e da farda que veste.
Não sou polícia nem sou casado com uma ( por muito que a mente, por vezes, possa criar ideias promíscuas com algemas e fardas). Daí que este texto é um puro devaneio pessoal sobre o homem ou mulher por detrás da autoridade.
Não estou aqui para falar da forma de agir das autoridades competentes nem para falar do policia enquanto agente da autoridade, o objectivo não é criar polémica nem discussão em torno deste assunto. Estou aqui para falar do homem ou mulher que, enquanto pessoa, tem família. É filho ou filha, marido ou esposa, pai ou mãe. Do homem ou mulher que tem de sair da sua terra natal, deixa para trás os seus e aluga uma casa com poucas condições, até que a situação o permita juntar o agregado, só para exercer uma profissão que alguém teima em dizer que não é de risco. De vez em quando, porque as saudades apertam, lá vai passar um fim de semana ao lugar onde nasceu.
Do homem ou mulher, que diariamente sabe como sai de casa mas não sabe como entra. Daquele ou daquela, que se tem um pequeno atraso e está incontactável deixa a família em alvoroço. Vê os filhos nascer mas não sabe se os vai ver crescer. Só que, para não entrar em loucura, tenta, vez por outra, esquecer estes tormentos. Não quer condicionar o futuro com esses pensamentos.
Do homem ou mulher que não tem feriados nem dias santos mas está pronto para exercer a sua profissão sempre que a escala o designa. Isso impede-o de estar com a família em alturas que lhes são tão importantes. Do homem ou mulher que vê outro homem ou outra mulher abandonar a vida, bem à sua frente, sem nada poder fazer, tendo essa imagem presente na memória para o resto das suas vidas. Daqueles que são chamados para ocorrências em zonas ditas perigosas e a adrenalina toma de tal forma conta de si, que vão, literalmente, com o coração aos saltos.
Estou a falar do homem ou mulher que, apesar de todas estas contrariedades, conseguem amar e debitar felicidade por meio de um sorriso rasgado, porque a vida não é só trabalho. Quando vê os seus filhos nascer, quando os vê entrar para a escola ou quando os vê constituir a sua própria família, a sensação de realização pessoal toma conta destes seres que um dia decidiram enredar por uma das profissões que melhor conjuga a ingratidão com o gratificante na mesma frase.
Lanço aqui um desafio a todos os leitores deste devaneio textualizado, que da próxima vez que se cruzarem com um qualquer agente da autoridade, seja ele Polícia ou GNR, cumprimentem-no, agradeçam-lhe e se possível dêm-lhe um abraço. (Haverá alguns mais introvertidos que não gostarão de abordagem tão íntima).
A estes homens e mulheres, envio o meu muito obrigado, com o voto de que sejam felizes e vivam, porque viver é a melhor vida que há.
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