quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

2016 - um ano num post

 
Se há anos que não dão para esquecer, este é um deles.
É daqueles que mais tarde obriga a ter na garrafeira um Porto Taylor's Vintage 2016. 
O início do ano não perspectivou nada de bom. Estava em execução um plano para acabar com uma boa parte das vivências dos anos 80. A 10 de janeiro morria David Bowie, cantor britânico que marcou gerações, incluindo a minha. Músicas como Space Oddity, Let's Dance e Under Pressure, que escreveu e compôs em parceria com os Queen, tornaram-se intemporais.
 A 19 de janeiro morria Glenn Frey, guitarrista e fundador dos Eagles e do seu Hotel Califórnia.
Em 21 de Abril continuava a razia aos anos 80 com a morte de Prince, um dos músicos mais multifacetados de que há memória. Músicas como Purple Rain e Get Off, foram algumas das mais ouvidas que este senhor compôs.
A 7 de Novembro despede-se da vida Leonard Cohen. O seu trabalho marcou muito a geração dos meus pais, o que por si só, já obrigava a uma injecção constante nas viagens de carro (andava lado a lado com os Iniciadores e os Tri Odemira).
 Foi impossível não fazer parte da minha adolescência.
 O triângulo das bermudas de 2016 culminou com a morte de George Michael a 25 de Dezembro e de Carrie Fisher, a princesa Leia de Star Wars, a 27 de Dezembro.
 Foi uma autêntica limpeza à melhor geração de sempre, perdoem-me os que têm opinião diferente.
 Mas não são estes acontecimentos menos felizes que fazem deste ano um ano memorável.
A lareira no Alentejo numa casa humilde com mesa farta, deu o mote para o que seria um bom ano. Foi assim que, ao som das armas dos caçadores e dos foguetes discretos das aldeias vizinhas, se deu a passagem de 2015 para 2016. Soube tão bem aquele fim de semana que este ano ficou decidido um dejávu.
 Depois veio o fim de semana entre amigos pelas águas do Paiva. O objectivo, fazer os passadiços com o nome do rio, por paisagens de deixar de queixo caído o menos impressionável dos seres. A casa onde ficámos deixou memórias que não se apagam qual cópia a papel químico. 15 pessoas, 15 loucos, 15 sonhadores. Uns mais que outros, era eu o pior(ou melhor) deles.
Após uma semana de chuva, o sol veio receber-nos de forma tão hospitaleira que até deu direito a banhos de piscina, gelada por sinal, no domingo de manhã.
 Pelo meio, demos um saltinho ao Porto para enchermos o coração com o calor de uma das cidades que melhor pratica a arte de bem receber.
 A paisagem, os cheiros e a genuinidade das gentes, conjugada com o fumegar de uma francesinha acabadinha de fazer no Café Santiago, tornaram aquela cidade um dos locais mais emblemáticos das minhas vivências. 
Esta visita relâmpago serviu para alimentar o desejo de voltar, o que viria a acontecer em Junho, desta vez de forma mais demorada e, por sua vez, prazerosa.
 O passeio no Douro com viagem de comboio até à Régua e volta de barco, ao sabor da brisa que o rio emanava e de um cálice de Vinho do Porto que teimava em encher ininterruptamente, tornaram aquela vivência inesquecível. Depois vieram os passeios pela ribeira, a beleza inconfundível dos jardins do Palácio de Cristal, as lojas da Rua de Santa Catarina, o mercado do bolhão, os petiscos da Taberna Santo António, a francesinha do Capa na Baixa (filial do Capa Negra), a noite nas Galerias de Paris, a corrida matinal desde a Batalha até à Foz, ainda com a cidade meio a dormir, e...
mais vinho do Porto, tornaram aqueles dias mágicos.
O Agosto, tipicamente português, foi pelo Minho e Trás- os-Montes com o sabor do bacalhau à minhota em Viana do Castelo e da Posta Mirandesa do Restaurante o Abel, em Gimonde, Bragança. Come-se bem em todo o Portugal, mas no norte a história é outra. Sabores intensos, ricos em história e em vontade de fazer os outros felizes, faz desta região a mais apetecível à mesa.
 De volta a casa, a visita de uns amigos da Bélgica obrigou a um roteiro turístico por Lisboa e arredores, o que fez lembrar vivências de outros tempos pelas praias da Arrábida, Sesimbra e passeios pela linha de Cascais, que misturados com o francês debitado, levou-me por uma viagem imaginária pela riviera francesa, com todo o seu charme e glamour.
 Algumas destas vivências, e outras tantas, tornaram-se especiais não só pelos locais visitados mas, acima de tudo, pela companhia que partilha connosco tais momentos. E é essa companhia que torna esses momentos bons, únicos e memoráveis. 
E é aqui que entra o ano de 2016 como um ano inesquecível.
 Daqui a 10 anos vou procurar o Taylor's Vintage para comemorar tão boas recordações e espero fazê-lo na melhor das companhias.
  
 
 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Bom dia Sr. Inverno!

 Olá Sr. Inverno, seja bem vindo. Como tem passado? 
 É um prazer tê-lo por cá. Até porque consigo vêm os sonhos, as filhoses, as rabanadas, consigo vêm as tardes de domingo a ouvir chover lá fora, consigo vem a neve na serra, o madeiro em Penamacor. É uma festa só para o ver chegar.
 Trouxe na bagagem os lençóis quentinhos? E as pantufas com bigodes?
 Gosto do seu perfume a lenha de sobro na lareira. Sente-se tanto que inunda a rua toda, mas sabe tão bem!
 O senhor Inverno nunca anda sozinho. Gostei de o ver com o homem das castanhas e com o amolador. Coitado do amolador! Já ninguém lhe liga. Antigamente ainda lhe davam atenção por respeito a si, mas hoje em dia já nem isso lhe vale. Já ninguém arranja chapéus. A culpa é dessas chinesices baratas que andam por aí e que deixam o seu amigo sem ganha pão.
 Mas mudando de assunto, qualquer dia tenho de ir beber um chocolate quente consigo, é que isso só sabe bem quando está por cá. Aliás, quando está por cá sabe bem  o chocolate quente, o chá, a chávena a fumegar, a fatia do bolo ainda morna.
Ainda hoje fui comemorar o seu retorno ao sabor de um mil-folhas e dum cafézinho no Bellaria Caffe em Rio Maior. Aquilo é qualquer coisa entre o muito bom e o divinal. Há mil-folhas simples, de caramelo, de chocolate, de café, de morango. Parece um Candy Crush de massa folhada.
A sua presença tem destas coisas, inspira o palato a gostos mais intensos. O cabrito, o bacalhau, o entrecosto com castanhas, Hum! Já me está a crescer água na boca.
 Ouviu falar da zaragata entre o Sr. Verão e o Sr Outono? Coisa feia aquela. Não se falava de outra coisa. Não se entendiam sobre quem fazia o quê. Quem pagou fomos nós. Era frio, calor, frio, calor. Ainda bem que veio para por ordem nisto. Agora vão ter uns meses para pensar no que andam a fazer.
 Correm para aí uns boatos que o Sr. Inverno não anda bem, que já não é o que era. Há por aí más línguas que até dizem que já quase não se dá pela sua presença. Mas acho que é só bluff.
Quando quer até carrega casas de um lado para o outro, manda árvores abaixo, cria rios e lagos onde não havia. Mas vá com calma que o pessoal agradece. 
Gosto de o ter por cá mas faça curta a sua estadia. É para que fiquem saudades. 
 Se vir por aí a Primavera mande-lhe cumprimentos e diga-lhe que gostamos muito dela. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Povo que vives no rio

 Muitas páginas foram escritas tendo o Tejo como inspiração. Poemas, prosas e contos. De Camilo a Pessoa e outros mais também, muitos foram os que usaram o filho de Albarracín como cenário perfeito para as suas obras literárias. Também músicos se inspiraram lá. Quem não se lembra das canoas do nosso Carlos do Carmo? Do Beijo de Saudade da nossa Mariza? Do Rio do nosso Camané?
 Muitas telas se encheram também com o calmo azul, rasgado pela coreografia dos Cacilheiros que deambulam entre as duas margens, apreciado pelo olhar altaneiro do cristo de pedra que insiste em vir acenar a quem passa, qual Senhor do Adeus do concelho de Almada.
 Este foi o rio que me viu nascer lá para os lados de São Sebastião, e que me ensinou a amá-lo desde pequenino. Criou-me como um filho, nunca me deixou sozinho e veio sempre saber de mim.
 Quando eu ia para a escola, vinha dizer-me bom dia, todos os dias, nunca falhava. Às vezes vinha tapado por um manto branco, para me vigiar às escondidas, mas vou-vos contar um segredo, eu sabia que ele estava lá.
 Crescido e a precisar de sustento, meteu uma cunha e conseguiu-me um trabalho, bem pertinho dele, para me vigiar das más influências. 
Quis mudar de casa, mudar de ares, abrir horizontes, mas lá estava ele - vais mas não te afastes muito. E lá fui eu pra montante de onde nasci e fui criado, com o compromisso, de também lá, o visitar regularmente.
 Haverá amigo mais leal? Não! Digo-o com toda a certeza. 
 Quem é que está connosco quando nascemos? Quem é que nos vê crescer? Quem é que nos leva à escola, nos vê ir trabalhar, assiste ao nosso casamento, vai de férias connosco? Quem é? Os nossos pais?
 O Tejo é um pai para mim!
Foi com todas estas vivências que percebi que o Tejo não é só azul, não é só Cacilheiros, foi assim que percebi que o Tejo não é só Cristo Rei ou pontes ou foz.
 O Tejo também é verde, também é árvores frondosas, também é medronheiros, rosmaninho e alecrim. O Tejo também é castelos como o de São Jorge, o de Almourol e de Belver. O Tejo é as portas de Ródão, é escarpas, é lezírias. O Tejo é águias e falcões, é peixe e arte da pesca. Há Tejo além Tejo.
O Tejo é imigrante! Nasceu lá fora, é filho de Espanhóis. Mas apaixonou-se por Portugal e ficou por cá. Tornou-se pai de Lisboa, e por esse feito...
... estarei grato para sempre.
O Tejo é vida, o Tejo é gente!

sábado, 17 de dezembro de 2016

Os duros também caem

  
Já mediste a tua força hoje? Faz isso, mas lembra-te que a força de um ser não é medida pela capacidade do seu tecido muscular.
Lembra-te que os duros não são os que gritam mais alto, não são os que ferem com palavras.
Lembra-te que os duros não são os que causam dor física, não são os que batem, não são os que destroem, não são os que partem a louça toda num filme de acção. 
Duros? Duros são aqueles que lutam todos os dias pelo seu bem, pelo bem dos outros, pelo bem comum.
Duros são aqueles que motivam os fracos, levam à acção, puxam para cima. Duros são aqueles que, perante as adversidades da vida, sorriem e seguem em frente, levando com eles os que se deixam inspirar como se fossem sugados pela deslocação do ar provocada pela passagem destes comboios de positividade.
Duros são aqueles que fazem de cada lágrima um elixir da vida e por isso vivem. Vivem com todas as agonias, com todos os tormentos, vivem com todas as mossas das pancadas absorvidas ao longo da vida, mas vivem. Fazem-no com uma enorme vontade de viver.
Duros são os que tornam a deficiência física uma oportunidade de demonstrar a sua força. Que não se deixam travar pela falta de um membro, que fazem das cadeiras de rodas os seus Batmobil, e com elas percorrem o caminho da liberdade.
 Duros são os que partem à descoberta, os que encontram e os que demoram a encontrar, os que não desistem de procurar uma razão para continuar a viver, mas viver com toda a força, os que procuram o amor no lugar mais recôndito do coração. E quando o encontram, estão dispostos a enfrentar o mundo que conhecem e o que ainda vão descobrir para o manter bem vivo, bem perto.
Já mediste a tua força hoje? O que achas? És um duro?
 Mas lembra-te que duros, duros são aqueles que lutam todos os dias pelo seu bem, pelo bem dos outros, pelo bem comum.
 Eu já medi a minha força. E sabes? Sinto que sou um duro. 
 Luto por mim, luto por outros, puxo para cima.
 Sorrio perante as adversidades da vida, vejo na perda uma oportunidade de conquista.
 Amo. Amo muito, amo a sério. Resisto a muita pancada, aguento a desilusão.
 Mas vai com calma. Porque os duros...
 Os duros também caem.
 


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Deixa-me sonhar...

Um dia adormeci e quando acordei tinha quase 40 anos. Tinha vivenciado um sonho bom.
 Fui criança, fui adolescente, fui jovem, casei, fui pai, tornei-me adulto. Viajei e não fui pra lado nenhum, corri, andei, fiquei parado. Vivi e deixei viver. 
 Acordei e o sonho era real. Gostei.
 Quero mais, porque os sonhos não têm de acabar aos 40 nem aos 50. 
 Tenho direito a sonhar. Tenho direito a viver o sonho.
 Tenho direito a voar sem tirar os pés do chão. 
 Ai se eu voasse! Se eu voasse mesmo a sério! Seria uma ave migratória para correr mundo, ou então uma águia, para voar tão alto que quase via a terra toda de uma vez. 
 
Quero explorar, conhecer, percorrer. Quero voltar a ser eu. Quero amar, amar outra vez, amar para sempre. 
 Jogar pelo seguro? O que é jogar pelo seguro? Não conheço. 
 Prefiro o risco do ir à luta, a incerteza do dá e leva, não saber se vou ganhar a batalha. Quero perder, quero falhar, quero ganhar se der. Quero ter a certeza que me esfarrapei todo para ser feliz.
 Assim, se acordar repentinamente do sonho da vida, acordo com a consciência tranquila de quem deu o que tinha.
 Quero sonhar. O mundo é grande demais para sonhar sozinho. Vem sonhar comigo.
Deixa-te levar. Explora comigo, conhece comigo, percorre comigo.
 Ama outra vez. Ama para sempre. Escolhe o risco a incerteza, a luta. Sonha, mas sonha com a consciência tranquila de quem deu o máximo, de quem deu o seu melhor. Esfarrapa-te todo, tem coragem!
Se queres voar, não o faças nos poleiros da gaiola. Voa de sonho em sonho, de sorriso em sorriso, de vivência em vivência.
 O mundo é grande demais para voar sozinho, voa comigo.
 Se porventura, acordares do sonho e a realidade for  diferente do que sonhas, volta a voar. A felicidade está mesmo ali.
 Não caias na armadilha do deixa andar, do confortável. Vive, sonha e.....
.....deixa-me sonhar.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Nunca te esqueças

Memórias há que não quero apagar, não quero esquecer, teimo em manter.
 Enquanto criança, recordo-me das manhãs com a minha irmã Paula quando a dona Augusta ia trabalhar;
 O primeiro ano de escola, num edifício plantado ao cimo de uma ladeira, que nos fazia esperar pelo professor e a sua Ford Transit, para nos transportar até ao topo, qual elevador da Glória;
 Aquele dia de chuva em que, no recreio, eu e os meus colegas, tivemos a brilhante ideia de pintar o prédio do vizinho com bolas de lama, que fizemos com as mãos e que depois fomos obrigados a lavar;
Aquelas dormidas na carroceria fechada da Bedford azul bébé do meu pai, com a qual não tínhamos limites. De norte a sul foram muitas as viagens bem gozadas, as noites bem passadas, na companhia do Vasco, o meu irmão mais novo.
 Na adolescência e juventude recordo-me da casa de férias que o meu pai, teimosamente, decidiu construir em Coimbra, sua terra natal e na qual passamos alguns verões inesquecíveis;
 Lembro-me de alguns grandes amigos. Uns ficaram, outros nem tanto, mas todos têm o seu espaço nas minhas recordações.
 Memórias há que não quero apagar, não quero esquecer, teimo em manter. 
 As primeiras férias com a Susana. Há quem lhes chame lua de mel. Eu chamo-lhes uma aventura. Porque na verdade, foi isso que foram. O Ford Fiesta vermelho que nos levou, bebia tanto óleo como gasolina, mas não nos deixou mal. Conquistou o Minho qual D. Afonso Henriques, sem vacilar. Houvesse óleo e combustível e era um guerreiro.
 A memória mais inesquecível foi o nascimento da Adriana (lê O Gene De Um Pai). Posso estar enganado mas essa nem o Alzheimer me tira.
 Recordo-me das férias no Alvor quando ainda era uma vila piscatória, das caminhadas na Madeira, dos mergulhos em Salou.
 Recordo-me das paredes de casa pintadas com lápis de cera. A Didi tinha a mania que era artista.
 Memórias há que não quero apagar, não quero esquecer, teimo em manter, mas nem todas estou preparado para partilhar. Algumas são mais antigas outras mais recentes, umas mais íntimas que outras, mas guardo-as com todo o carinho que tenho por elas.
 Quanto às más memórias, também existem, mas num racio bem diminuto. Não por serem poucas mas porque há uma natureza intrínseca em mim que me faz esquecê-las. Daí não conseguir ganhar rancor a longo prazo. Este fim de semana é rico em memórias que não vou esquecer. O lanche na Casa da Guia, com o sol sonolento na retina. O jantar guiado pelo senhor Rogério, que nos contou a sua história de vida enquanto degustávamos o bife da vazia com molho Roquefort. O passeio noturno que culminou no Jardim da Cerveja, um bar com música ao vivo, bem perto do hotel e que já não visitava faz vinte anos.
 
O acordar com o sol no último piso do Vila Galé Cascais e dizer-lhe bom dia com a melhor vista que já tinha vivenciado. Sair para correr, tendo o mar como mental coach. Era capaz de viver isto todos os dias.
 
 É tão bom reter vivências assim enquanto a memória não nos atraiçoa. 
Outras houve que já esqueci. Foram más. Não quero guardar. Mas lembra-te, memórias há que não quero apagar, não quero esquecer, teimo em manter. 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Ensaio sobre a bicicleta 2 - de Tróia a Sagres

Épico. Único. Transcendental. 
Não. Não estou a falar de nenhum êxito de bilheteira realizado por um dos grandes cineastas do momento e com um elenco de luxo.
Estou mesmo a falar da aventura de três amigos, o Paulo, o Miguel e o Ricardo, que, mal preparados mas com uma enorme força de vontade, decidiram fazer um passeio que nem as memórias mais esquecediças apagarão. 
Pronto! Pronto! Já sei que estou a exagerar. Mas, vá lá, deixem-se levar!
 Após um plano  bem elaborado e uma logística cuidada, chegou o tão aguardado dia. Quinta-feira, 8 de dezembro de 2016. O sol veio desejar-nos boa viagem e desapareceu. 
 
Saímos de Tróia às 8 horas da manhã, com um atraso de meia hora em relação à hora prevista. Este atraso iria ter um reflexo no fim. A nossa expressão refletia bem o quanto ansiávamos este dia.
 Mas essa expectativa depressa daria lugar à preocupação do tempo a passar. 10 quilómetros volvidos e veio o primeiro contratempo, um furo. Ok, faz parte, mas tão cedo? Não antevia nada de bom.
Problema resolvido, siga viagem que se faz tarde. A primeira paragem planeada estava prevista ser em Brescos, junto ao Café Arsénio, mas falhou a logística. Desencontramo-nos do carro de apoio, conduzido por outro Ricardo, o Sousa, e por isso tivemos de fazer mais uns quilómetros até Vila Nova de Santo André. Ali recarregámos baterias, acertamos o ar do pneu furado e voltamos à estrada. A paragem foi maior que o previsto mas estávamos a andar a bom ritmo. 
 
A partir daqui o vento foi uma constante, às vezes de frente, às vezes lateral, fazia-nos pensar como iríamos aguentar o resto da viagem que ainda não ia a meio. Decidimos não nos preocuparmos tanto com as paragens e os seus tempos.
 A bexiga aperta e o corpo anseia um café. Daí, nova paragem, esta mais curtinha, no Kallux bar, na praia de São Torpes. Mas valeu bem a pena! Aquela paisagem revigora até o mais cansado dos seres humanos.
 
Seguimos em direcção a Vila Nova de Milfontes já com o Miguel em dificuldades inerentes à constipação que o atormentava. 
Outro furo, outro contratempo. Mas, faz parte.
 Chegados a Vila Nova, pensamos em comer um croissant de chocolate na Mabi, mas como não queríamos perder muito tempo ficámo-nos pela sandes de panado e sopa, no carro, seguido de um cafézinho na melhor pastelaria de Vila Nova de Milfontes, a Pão, Café & Companhia. Um conceito de pastelaria, padaria e mercearia, muito giro por sinal.
 Já com meio caminho percorrido, seguimos em direcção à próxima paragem - Odeceixe. Mas com o vento a apertar e algumas subidas à mistura, o Miguel não resistiu e assim veio a primeira e única desistência.
  
Apesar de tudo, o Miguel foi enorme. Pedalar 130 quilómetros com dificuldades respiratórias! Muito aguentou ele. Haverão outras oportunidades amigo.
 Esta viagem, agora a dois, entrou no seu período mais épico com as subidas de São Teotónio e Odeceixe. A entrada no Algarve foi assinalada com toda a pompa e circunstância.  
No Rogil vieram as primeiras cãibras e faltavam 55 quilómetros.
 Já sem certezas de como isto ia acabar, tivemos de parar em Aljezur para um reforço da cafeína e para recuperar os músculos das pernas, que teimavam em ceder. Faltavam 48 quilómetros. 
 Chegámos à Carrapateira já de noite e tivemos de subir a serra que nos separava de Vila do Bispo nessa condição.  De salientar o enorme Fair Play do Miguel, que apesar de ter desistido, não nos abandonou e pediu ao nosso Motorista, o Ricardo Sousa, que fosse atrás de nós a iluminar o caminho. 
 
 O vento era tanto que em Vila do Bispo tinha deitado um poste no chão, obrigando-nos a baixar a cabeça para passar pelos fios caídos sobre a estrada.
 Num último esforço, e por sabermos o objetivo ali tão perto, demos tudo o que tínhamos até Sagres, fazendo autêntico equilibrismo para não sermos deitados ao chão por um vento zangado que nos veio receber.
 Mas já nada nos parava!
 
 
Foi já num escuro profundo que chegámos a Sagres.
 Mas chegámos! CHEGÁMOS!
Alguns pormenores a reter estão relacionados com a condição física dos envolvidos. 
 O Miguel estava com uma grande constipação que o impediu de acabar. 
O Paulo, o maior dos guerreiros, só usava uma mão no volante. Sofreu um acidente há uns meses com uma máquina de corte que lhe inutilizou uma das mãos. Só a pousava no volante para manter o equilíbrio. Força e travagem, só com a mão boa. Além disso levou uma bicicleta de ferro, com tantos anos quantos ele tem de idade e a pesar uns bons quilinhos a mais do que se usa agora.
Eu tenho episódios constantes de sístoles prematuras ventriculares, que pensava ter passado mas de vez em quando ainda me atormenta e deixa-me o coração aos saltos. Foi o caso de ontem durante a viagem. Ainda está a ser analisado o que é isto.
 Parece loucura termos levado a cabo esta viagem, mas a vida às vezes é feita de decisões que nem todos percebem. Mas lembra-te que a razão nem sempre tem razão. (lê A Axiomática da Razão)
 A verdade é que esta vivência já ninguém nos tira.
  Não deixes que as limitações te tirem o desejo de viver. Podes não poder fazer tudo. Mas és capaz de coisas que nem imaginas.
 Sai do sofá, sai de casa, dá o que tens, dá-lhe com força, vai em frente.
 Sê tu próprio, sê tu própria, arrisca, não tenhas medo.
 Boas vivências!!

 Um agradecimento especial ao Ricardo Sousa por nos ter acompanhado durante toda a viagem e nos ter trazido para cima.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

A axiomática da razão

Perdoem-me os estudantes de matemática se estavam à espera de encontrar neste espaço uma explicação sobre um conjunto de axiomas que podem ser ligados em conjunção para logicamente derivar teoremas.
 Não é disso que se trata e percebo,de uma forma axiomática, se não quiserem continuar a leitura deste texto.
 A razão sugerida é aquela que por vezes nos impede a ação. 
 Quando somos miúdos temos vontade de nos aventurarmos pela casa em ruínas junto à escola, mas a razão.... Bem, aí a razão tem razão.
 Na adolescência queremos mandar em nós mesmos, ser donos do nosso mundo, sermos crescidinhos para tomar as nossas decisões sem dar cavaco a ninguém,  nadar fora de pé, mas a razão.... Bem, aí a razão tem razão.
Na juventude queremos ir viver sozinhos, viver a nossa independência, sair pelo mundo fora ou fugir com a namorada que a família não gosta, mas razão.... Bem, aí a razão tem razão.
 Em adultos queremos viver tudo aquilo que a razão não deixou viver na infância, na adolescência, na juventude. Mas a razão.... Afinal a razão nem sempre tem razão. Não é tão axiomática como possa parecer.
  Porque a vontade tem sempre de prestar vassalagem à razão? Porque razão não podemos viver sem pensar tanto na razão?
 Já dizia o provérbio que a razão tem razões que a razão desconhece.
 O que nos impede de viver aquela aventura? O que nos impede de viver aquele amor? O que nos impede de descobrir que aquele brilho que nos atrai não é ouro e que não nos importamos disso? O que nos impede de viver? É a razão?
 Essa gaja é uma ditadora, uma tirana, uma arrogantezinha mal amada que tem a mania que manda nos outros. E só nos a percebemos disso quando, 40 ou 50 anos volvidos, vemos que a tipa nos consumiu a vivência.  Não se deixem roubar! Chamem o Robin Hood para tirar à razão e dar ao coração.
 
Vamos sorrir, vamos amar, vamos errar. Vamos dar valentes pontapés nos calhaus mais volumosos que aparecerem no caminho, e com o pé todo inchado e ferido, vamos passar por cima de tal saliência rochosa, como se duma pedra no sapato se tratasse.
 Mas cuidado! Porque às vezes a razão...
... pode ter razão.

 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O gene de um pai

Dia 23 de Dezembro de 2002. O frio da manhã lembrava que já era inverno.
Acordei calmo e sereno, mas com um senso de responsabilidade bem apurado pela seriedade do que estava para vir.
 O dia vestido de azul permitiu ao sol vir testemunhar tão memorável acontecimento.
 Ia nascer mais uma criança. Mas não uma criança qualquer. Era a minha criança. A minha filha, a minha maior motivação. Seria talvez o dia mais feliz da minha vida.
 Parece chocante não dizer com toda a certeza que este era o dia mais feliz de todos. Mas a verdade é que sou feliz e pronto. A felicidade é uma constante. Sempre feliz, sempre criança, sempre eu. Mas essa vivência vou deixar para outra altura.
 Tinha de estar na Maternidade Alfredo da Costa às 10 horas para poder dar uma força extra à Susana antes de entrar para o bloco.
 Ia nascer de cesariana. A miúda era uma matulona!
 Depressa a calma e a serenidade deu lugar ao pânico. 
 O raio do carro não pegou. Com tantos dias para falhar, tinha logo de ser no dia em que não me podia deixar mal. Felizmente, há amigos que o são quando mais precisamos. Um desses foi para o trabalho de autocarro para eu conseguir chegar a tempo e horas à MAC.
 O átrio onde eu aguardava parecia um call center de futuros pais babados. Eu era mais um futuro pai chorão. O telefone toca, atendo, falo e choro. 5 minutos volvidos - toca, atendo, falo, choro. Parecia uma cena coreografada de um videoclipe qualquer.
 Que belo pai estava ali! Pior ficou ainda quando as portas se abriram e saiu uma enfermeira com um bébé enrolado num cobertor e perguntou pelo pai da Adriana.
 Aquela minúscula mão enrola-se no meu dedo assim que lhe toca. Foi das melhores sensações que senti. Mais uma vez não consegui conter as lágrimas.
 Mas ser pai não se resume à vivência do dia em que os filhos nascem. Ser pai é estar presente quando, nos primeiros passos, ela cai. Ser pai é ouvir a primeira palavra, ser pai é cuidar quando nasce o primeiro dentinho, ser pai é acordar de noite quando a febre ataca ou o choro vem, ser pai é estar lá no primeiro dia de escola, ser pai é ser presente.
Ser pai é também estar longe por força das circunstâncias, ser pai é emigrar, ser pai é enfrentar o mundo, a distancia, a solidão, fazê-lo pelos filhos.
 Ser pai é também errar, é não saber lidar com as situações, é tentar lidar.
 
Acima de tudo ser pai é amar. Eu amo-te Didi!!
 

domingo, 4 de dezembro de 2016

Ensaio sobre a bicicleta

Hoje foi assim.
Uma manhã com amigos a brincar aos ciclistas. 
90 quilómetros de pura diversão e algumas dores à mistura.
A folia ainda ficou melhor quando o vento ajudou. De princípio, tivemos de lutar com ele cara a cara, até que por fim, decidimos virar-lhe as costas. Não gostamos de brigas de bairro.
 Pelo meio, a tradicional paragem nas casa das queijadas do Porto Alto. Foi assim reforçada a energia pela força de um café e dos hidratos de uma queijada de ananás. Tão boa, tão fresca, tão.......Ok! Sou um guloso! Mas que vivência seria esta sem uma guloseima de quando em vez?
 Daí para à frente foram 40 quilómetros por uma paisagem rica em sobreiros e touros bravos.  Já quase no fim desta etapa, o meu corpo já só ouvia uma voz tipo aquela no interior do comboio a dizer: próxima paragem: Pastelaria Forno de Samora Correia. O que é que querem? O tempo frio e o céu quase a desabar sobre nós! Tive de buscar consolo num pampilho salpicado com palitos de amêndoa. Vá, atirem a primeira pedra!
 
De volta à estrada, a brincadeira ganhou contornos mais interessantes quando, vindo directamente das comportas do céu, caiu o Carmo e a Trindade sobre nós (mesmo de propósito, depois do último post).
 Quando chegamos a casa, estávamos tão cansados e molhados que mais parecia que tínhamos ido praticar mergulho em apneia.
 Apesar de todos estes desafios, o maior deles continuam a ser os automobilistas mais temperamentais que teimam em testar as artes circenses dos ciclistas e fazem razias dignas do último filme do Jason Bourne.
Eu sei que os ciclistas são uns chatos. Esses bandidos obrigam-nos ao esforço megalómano de ter que carregar no pedal da embreagem e do travão para reduzir a velocidade. Como se isso não bastasse, temos de queimar uma pipa de calorias para colocar a nossa confortável viatura na velocidade de cruzeiro outra vez. Que ultraje!
Vá lá pessoal! Vamos lá ser um pouco mais condescendentes com esses malandros das bicicletas. É verdade que também fazem diabruras na estrada. Mas a verdade é que, enquanto automobilistas, conduzimos um veículo com mais de uma tonelada, que ao embater numa bicicleta com pouco mais de 7 quilos, parece um comboio a varrer um Mini de 1979. Quanto aos erros dos outros, lembrem-se que não somos nenhuns justiceiros para condenar a uma vida numa cadeira de rodas ou até mesmo à morte o criminoso que nos empata o percurso.
Brinca e deixa brincar. Vive e deixa viver, relaxa.
Boa viagem!
Nota: obrigado ao Paulo e ao Miguel pela boa companhia desta manhã.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Quando a chuva cai

A chuva cai. Tão certa como a vida, tão certa como a morte, mais certa do que as melhores criações da relojoaria suíça. Molha, encharca, inunda.
Mas provoca sensações tão diferentes no viver de cada um. 
Hoje, ao acordar, caia assim. Os lençóis de flanela davam uma sensação de conforto e proteção que me senti como um feto dentro do saco amniótico, protegido de choques térmicos e mecânicos.
A triste realidade dizia-me que eu estava no fim da gestação do sono e algo me impedia de continuar naquele ambiente protetor. Era a consciência do ter que fazer. O saber que nada aparece do nada.
O relógio aponta 9 da manhã. Sendo assim, toca a acordar que se faz tarde e a manhã passa a fugir.
Lavado e penteado, com a roupa no corpo, saí para a rua, onde só os corajosos ou necessitados se aventuram.
 Por incrível que possa parecer, a sensação de proteção mantém-se por mais uns momentos. O som da chuva no vidro mistura-se com a música debitada pelo rádio do carro. Sabe tão bem!  Parece que estamos dentro de um bunker de vidro no meio do temporal. Gosto de conduzir assim.
 

 Então se a viagem terminar no topo duma falésia, junto ao mar que, sem piedade, bate na firmeza da rocha que o tempo se encarrega de fragilizar, ainda melhor.
Chamem-me louco se quiserem. Não me ralo. A minha vivência adjectiva-me assim.
 De mãos no volante e sentido apurado, fico atento aos pobres coitados, de rosto franzido, que se movem nas bermas alagadas, sempre com medo que um condutor mais distraído ou perverso os deixe mais molhados que um cão vadio.
 Mas nem todos reagem assim. De peito saído e ombros erguidos, vejo um puto a enfrentar a chuva qual Vasco da Gama a enfrentar o Adamastor. A mensagem é clara - medo da chuva a mim não me assiste!
 Perceber que nem todos vêm a chuva como um adversário, leva-me à conclusão que esta não tem de ser um mal a evitar.
 A chuva não pára os destemidos, a chuva não pára as crianças, não pára os loucos. Não pára aqueles, que por amor, enfrentam o cabo das tormentas. A chuva não me pára!
Deixem-se molhar! Não façam do andar à chuva apenas um anúncio de uma marca de detergente para a roupa. Sejam destemidos por um dia, sejam crianças por um dia, sejam loucos por um dia, amem por um dia. Ou sejam isto todos os dias!
Não deixemos que a chuva estrague a nossa vivência, pois não sabemos quantas vezes mais veremos chover.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Bom humor, mau humor

No meu post anterior, de uma forma fictícia e carregada de humor, tentei recriar um dia de trabalho normal como há em qualquer lugar. Quis mostrar que aquelas personagens fazem parte do dia a dia de quem trabalha, independente de onde trabalha.
 Parece que essa análise provocou reações adversas em algumas pessoas, que se sentiram retratadas no ali.
Este não tem o objectivo de ferir susceptibilidades, nem de visar alguém de outra maneira qualquer.
No entanto, com esta reação, consegui perceber que, para alguns, humor só é humor quando visa os outros e não a eles.
 Temos de perceber que o humor é como um jogo de ténis em que disparamos a bola para o outro lado da rede e temos de estar preparados para a receber de volta. Se não houver esta disposição mais vale escolher um desporto que não envolva outras pessoas - joguem sozinhos pá!
 Se há um sentimento de ataque pessoal nesse post é porque se sentem retratados de uma forma que não gostam, mas isso só acontece quando se identificam com uma das personagens.
 Eu não me identifico ali, tu identificas-te?
É humor caramba! Humor bom e humor mau não pode ser avaliado por aquele que retrata os outros e o que retrata a mim próprio, respectivamente.
 

Quando ouvimos piadas sobre o Presidente da República, rimos à gargalhada, se é sobre algum membro do governo até nos falta o ar de tanto rir, se é sobre o nosso chefe temos de ter cuidado para não nos engasgarmos com o nosso esgargalhar. Mas quando é sobre a nossa pessoa....
 Se só achamos piada quando os visados são outros, coitados de nós! Somos uns pobres de espírito.
 A vida tem outra graça (juro que não estou a falar de ninguém) se for vivida feliz.
Lembra-te que a vida passa como a bruma da manhã. É um desperdício levar o tempo a aborrecermo-nos com coisas menores e de somenos importância.
Abre o teu leque. Conhece pessoas novas. Apaixona-te, ama e deixa-te amar. Brinca, diverte-te, sorri. Vive com humor, vive com amor. Mas acima de tudo, vive!
Sejam felizes!
 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Um dia de trabalho como outro qualquer

Vamos criar valor! - graceja um colega antes de passar as portas automáticas que dão acesso ao hall de produção. 
Como em todos os trabalhos há sempre alguém que chega mais tarde sem dar cavaco a ninguém e se reagrupa como se fosse um pardal que por breves momentos fugiu ao bando.
 Nesta visita guiada vou apresentar-vos as personagens que fazem deste lugar um trabalho como outro qualquer.
Este é o Luis, o desportista cá do sítio. Se exercitasse tanto a cabeça como exercita o corpo era uma pessoa impecável.
Ali está o Miguel. É o oposto do Luís. Desporto só se for do sofá para a cozinha e vice-versa. É um gajo fixe, às vezes estica-se um bocado nas conversas mas quem é que de nós não se estica?
Junto com eles, trabalha o Tó, o sujeito das piadas de cariz sexual, afinal em todos os trabalhos tem de haver um. 
O mais assertivo deste primeiro grupo é o Antunes. Um gajo porreiro, que leva a vida na dele, dá as suas piadas, mas não entra em excessos e não alimenta a polémica. A trabalhar tem um défice de oxigénio, mas isso só prova que gosta de cumprir com a sua obrigação.
 Mais ao fundo da nave temos o Rodrigo. Excedesse tanto nos pormenores das suas histórias que fomos todos obrigados a aprender a nadar para evitar uma morte trágica por afogamento no local de trabalho.
 O José já só pensa na reforma. Também não é para menos. Quando a idade já pede descanso, ele vê-se obrigado a provar todos os dias a razão do seu salário.
 Sozinho no fim do mundo temos o Vasco. Não se mete com ninguém mas todos se metem com ele. Leva a vida tão na descontra que às vezes até se esquece do que tem de fazer.
A montante temos o Silva, o frasco de veneno cá do sítio. Consegue por palavras controlar as mentes mais incautas (para não dizer mais fracas). E ele sabe bem escolher as suas presas, tanto que não dispara em todas as direcções. Junto com o Luís e mais um ou dois formam um conclave papal.
A jusante temos o Ferreira, um cota que faz mais barulho do que a sirene dos bombeiros. Gosta de partir a louça toda mas na verdade é meigo como um cordeirinho. O seu colega é o Pereira, o dom Juan da parada, que suscita muitas invejas entre os prevaricadores mais antigos e os que gostavam de prevaricar mas não tem tão rara habilidade.
 À margem deste pessoal está a varanda da conspiração. É ali que se fala bem de tudo e mal de todos. Os seus naturais são o Manuel, um sujeito de quase 60 anos que tenta manter um corpo de 40, que lhe fica bem por sinal, mas que tem a moleirinha feita em baba de camelo, resultante da vizinhança. Co-habita com a Josélia, uma cinquentona com aspecto de 40 anos, que só ela vê. Perspicácia é deficitária naquele reino, dai ser um local privilegiado para o Silva atacar, mas pode ser que o tempo mude isso.
 Quanto a mim, essa caracterização deixo para vocês no espaço para comentários.
 Mas lembrem-se que este blog ia retratar o viver com todas as suas experiências, realizações, erros e emoções.
 Se me julgarem demasiado crítico, perdoem-me. Mas faz parte do viver.
 Bom trabalho a todos!
Nota: este post é meramente humorístico não visando pessoas ou entidades.