A chuva cai. Tão certa como a vida, tão certa como a morte, mais certa do que as melhores criações da relojoaria suíça. Molha, encharca, inunda.
Mas provoca sensações tão diferentes no viver de cada um.
Hoje, ao acordar, caia assim. Os lençóis de flanela davam uma sensação de conforto e proteção que me senti como um feto dentro do saco amniótico, protegido de choques térmicos e mecânicos.
A triste realidade dizia-me que eu estava no fim da gestação do sono e algo me impedia de continuar naquele ambiente protetor. Era a consciência do ter que fazer. O saber que nada aparece do nada.
O relógio aponta 9 da manhã. Sendo assim, toca a acordar que se faz tarde e a manhã passa a fugir.
Lavado e penteado, com a roupa no corpo, saí para a rua, onde só os corajosos ou necessitados se aventuram.
Por incrível que possa parecer, a sensação de proteção mantém-se por mais uns momentos. O som da chuva no vidro mistura-se com a música debitada pelo rádio do carro. Sabe tão bem! Parece que estamos dentro de um bunker de vidro no meio do temporal. Gosto de conduzir assim.
Então se a viagem terminar no topo duma falésia, junto ao mar que, sem piedade, bate na firmeza da rocha que o tempo se encarrega de fragilizar, ainda melhor.
Chamem-me louco se quiserem. Não me ralo. A minha vivência adjectiva-me assim.
De mãos no volante e sentido apurado, fico atento aos pobres coitados, de rosto franzido, que se movem nas bermas alagadas, sempre com medo que um condutor mais distraído ou perverso os deixe mais molhados que um cão vadio.
Mas nem todos reagem assim. De peito saído e ombros erguidos, vejo um puto a enfrentar a chuva qual Vasco da Gama a enfrentar o Adamastor. A mensagem é clara - medo da chuva a mim não me assiste!
Perceber que nem todos vêm a chuva como um adversário, leva-me à conclusão que esta não tem de ser um mal a evitar.
A chuva não pára os destemidos, a chuva não pára as crianças, não pára os loucos. Não pára aqueles, que por amor, enfrentam o cabo das tormentas. A chuva não me pára!
Deixem-se molhar! Não façam do andar à chuva apenas um anúncio de uma marca de detergente para a roupa. Sejam destemidos por um dia, sejam crianças por um dia, sejam loucos por um dia, amem por um dia. Ou sejam isto todos os dias!
Não deixemos que a chuva estrague a nossa vivência, pois não sabemos quantas vezes mais veremos chover.
Quem anda à chuva molha-se....e isso também é bom!
ResponderEliminarBem bom amiga! Bem bom!
EliminarNuma palavra... Altamente.
ResponderEliminarOs meus sinceros parabéns. Temos escritor.
Obrigado pelo apoio Carlos!
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