domingo, 11 de dezembro de 2016

Nunca te esqueças

Memórias há que não quero apagar, não quero esquecer, teimo em manter.
 Enquanto criança, recordo-me das manhãs com a minha irmã Paula quando a dona Augusta ia trabalhar;
 O primeiro ano de escola, num edifício plantado ao cimo de uma ladeira, que nos fazia esperar pelo professor e a sua Ford Transit, para nos transportar até ao topo, qual elevador da Glória;
 Aquele dia de chuva em que, no recreio, eu e os meus colegas, tivemos a brilhante ideia de pintar o prédio do vizinho com bolas de lama, que fizemos com as mãos e que depois fomos obrigados a lavar;
Aquelas dormidas na carroceria fechada da Bedford azul bébé do meu pai, com a qual não tínhamos limites. De norte a sul foram muitas as viagens bem gozadas, as noites bem passadas, na companhia do Vasco, o meu irmão mais novo.
 Na adolescência e juventude recordo-me da casa de férias que o meu pai, teimosamente, decidiu construir em Coimbra, sua terra natal e na qual passamos alguns verões inesquecíveis;
 Lembro-me de alguns grandes amigos. Uns ficaram, outros nem tanto, mas todos têm o seu espaço nas minhas recordações.
 Memórias há que não quero apagar, não quero esquecer, teimo em manter. 
 As primeiras férias com a Susana. Há quem lhes chame lua de mel. Eu chamo-lhes uma aventura. Porque na verdade, foi isso que foram. O Ford Fiesta vermelho que nos levou, bebia tanto óleo como gasolina, mas não nos deixou mal. Conquistou o Minho qual D. Afonso Henriques, sem vacilar. Houvesse óleo e combustível e era um guerreiro.
 A memória mais inesquecível foi o nascimento da Adriana (lê O Gene De Um Pai). Posso estar enganado mas essa nem o Alzheimer me tira.
 Recordo-me das férias no Alvor quando ainda era uma vila piscatória, das caminhadas na Madeira, dos mergulhos em Salou.
 Recordo-me das paredes de casa pintadas com lápis de cera. A Didi tinha a mania que era artista.
 Memórias há que não quero apagar, não quero esquecer, teimo em manter, mas nem todas estou preparado para partilhar. Algumas são mais antigas outras mais recentes, umas mais íntimas que outras, mas guardo-as com todo o carinho que tenho por elas.
 Quanto às más memórias, também existem, mas num racio bem diminuto. Não por serem poucas mas porque há uma natureza intrínseca em mim que me faz esquecê-las. Daí não conseguir ganhar rancor a longo prazo. Este fim de semana é rico em memórias que não vou esquecer. O lanche na Casa da Guia, com o sol sonolento na retina. O jantar guiado pelo senhor Rogério, que nos contou a sua história de vida enquanto degustávamos o bife da vazia com molho Roquefort. O passeio noturno que culminou no Jardim da Cerveja, um bar com música ao vivo, bem perto do hotel e que já não visitava faz vinte anos.
 
O acordar com o sol no último piso do Vila Galé Cascais e dizer-lhe bom dia com a melhor vista que já tinha vivenciado. Sair para correr, tendo o mar como mental coach. Era capaz de viver isto todos os dias.
 
 É tão bom reter vivências assim enquanto a memória não nos atraiçoa. 
Outras houve que já esqueci. Foram más. Não quero guardar. Mas lembra-te, memórias há que não quero apagar, não quero esquecer, teimo em manter. 

4 comentários:

  1. ...basta 1 cheiro, 1 olhar, 1 gesto em redor, 1 palavra, algo para despertar certas e determinadas histórias de vida, seja boas ,más, mas q algo acrescenta em nós, por isso há certas memórias q não quero apagar, não quero esquecer, teimo em manter sem vacilar, é bem......

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  2. Adorei meu mano lindo. Este é mais uma coisa que nos liga a vontade de escrever embora escrevas mil vezes melhor do que eu. :)

    Amo-te.

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  3. Parabéns! Boas recordações, aquelas idas a Coimbra, em que vivemos momentos inesquecíveis. Carrinha de 9 lugares de Lisboa a Semide, onde vimos nascer um casarão, onde a piscina aberta à mão a toque de um garrafão de vinho, quando se dava conta já estava vazio, mas era preciso hidratar. Tu Ricardo na altura uma criança a dar os teus bitaites como um capataz. O avô Carlos a pedirnos a chave da adega, para mais um copinho. A matança do porco era um festim. Pela manhã uma ida ao laranjal, pois a laranja sabia bem à ressaca. Do outro lado a serra da Lousã, os passeios nas margens do rio Ceira, não esquecendo os bons restaurantes e piscinas fluviais que por ali haviam, de facto tanta beleza. A chanfana da avó Céu, das melhores iguarias que já comi. A ida a cimo de vila, ao café da Nanda, onde já estava o avô Carlos, pois chegava sempre à nossa frente para não vermos quantas aguardentes bebia. DDomingo à tarde, era então rumo a Lisboa onde pelo caminho havia paragem obrigatória em Leiria para fazer compras e beber umas imperiais, continuava a viagem, onde a Maria Augusta vinha sempre a fazer o controlo de velocidade, frases como, cuidado Manel, vai devagar, olha aí. Bons velhos tempos. Boas recordações.
    Parabéns Ricardo, fizeste recordar estes tempos, onde não havia tristeza, tudo para nós era alegria, muitas mais coisas poderia aqui falar dessas viagens.

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    1. Palavras para quê?
      Está tudo dito.
      Obrigado por tão boas recordações

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