terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Povo que vives no rio

 Muitas páginas foram escritas tendo o Tejo como inspiração. Poemas, prosas e contos. De Camilo a Pessoa e outros mais também, muitos foram os que usaram o filho de Albarracín como cenário perfeito para as suas obras literárias. Também músicos se inspiraram lá. Quem não se lembra das canoas do nosso Carlos do Carmo? Do Beijo de Saudade da nossa Mariza? Do Rio do nosso Camané?
 Muitas telas se encheram também com o calmo azul, rasgado pela coreografia dos Cacilheiros que deambulam entre as duas margens, apreciado pelo olhar altaneiro do cristo de pedra que insiste em vir acenar a quem passa, qual Senhor do Adeus do concelho de Almada.
 Este foi o rio que me viu nascer lá para os lados de São Sebastião, e que me ensinou a amá-lo desde pequenino. Criou-me como um filho, nunca me deixou sozinho e veio sempre saber de mim.
 Quando eu ia para a escola, vinha dizer-me bom dia, todos os dias, nunca falhava. Às vezes vinha tapado por um manto branco, para me vigiar às escondidas, mas vou-vos contar um segredo, eu sabia que ele estava lá.
 Crescido e a precisar de sustento, meteu uma cunha e conseguiu-me um trabalho, bem pertinho dele, para me vigiar das más influências. 
Quis mudar de casa, mudar de ares, abrir horizontes, mas lá estava ele - vais mas não te afastes muito. E lá fui eu pra montante de onde nasci e fui criado, com o compromisso, de também lá, o visitar regularmente.
 Haverá amigo mais leal? Não! Digo-o com toda a certeza. 
 Quem é que está connosco quando nascemos? Quem é que nos vê crescer? Quem é que nos leva à escola, nos vê ir trabalhar, assiste ao nosso casamento, vai de férias connosco? Quem é? Os nossos pais?
 O Tejo é um pai para mim!
Foi com todas estas vivências que percebi que o Tejo não é só azul, não é só Cacilheiros, foi assim que percebi que o Tejo não é só Cristo Rei ou pontes ou foz.
 O Tejo também é verde, também é árvores frondosas, também é medronheiros, rosmaninho e alecrim. O Tejo também é castelos como o de São Jorge, o de Almourol e de Belver. O Tejo é as portas de Ródão, é escarpas, é lezírias. O Tejo é águias e falcões, é peixe e arte da pesca. Há Tejo além Tejo.
O Tejo é imigrante! Nasceu lá fora, é filho de Espanhóis. Mas apaixonou-se por Portugal e ficou por cá. Tornou-se pai de Lisboa, e por esse feito...
... estarei grato para sempre.
O Tejo é vida, o Tejo é gente!

6 comentários:

  1. Parabéns, uma vez mais muito bom. Continua.

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  2. ....o tejo , o rio, q leva na alma , os pensamentos, os saberes de muita gente,as alegrias, as tristezas de muita gente, sim sem duvida , o tejo é o presente, do hoje do amanhã e do futuro, sem margens para duvidas....bom , muito bom.....

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  3. Apetece-me responder com o poema de Alberto Caeiro....O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
    O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
    Quem está ao pé dele está só ao pé dele.~

    Beijo grande da mana.

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  4. Bela visão e descrição do lindo RIO TEJO...Parabéns...

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